ROSA DE AÇO - Conto policial com Heloísa Mattos - Capítulo 2

Heloísa abre os olhos repentinamente. Ao verificar o horário o salto que ela dá a deixa tonta por alguns momentos. Mais uma vez Karen chegará atrasada. Ela anda até o corredor e a porta do quarto da filha está aberta. Incrivelmente a cama da menina está arrumada, porém Karen não se encontra lá, nem sua mochila. Nervosa a investigadora corre até a cozinha de onde vem um cheirinho gostoso de ovos.

- Oi mãe?

- Desde quando você mexe no fogão? - pergunta olhando a frigideira.

- Desde quando a senhora me ensinou, vai querer?

- O cheiro tá maravilhoso, vou experimentar.

Helô deve admitir, sua menina está crescendo, até seu próprio café da manhã ela já prepara. Pela primeira vez elas tomam café juntas e sem pressa. Depois do dejejum finalmente elas estão a caminho do colégio. Karen confere seu material escutando música em seus fones.

- Você terá algum teste hoje?

- Sim, dois na verdade, matemática e ciências.

- E você estudou?

- Sim.

- Quero ver, hein.

O carro para e Karen desce correndo. Como sempre faz, Heloísa espera que sua filha passe pelo grande portão. Quando Karen desaparece ela volta a dá a partida. Um motoqueiro passa em alta velocidade quase arrancando lhe o retrovisor. Como passar em alta velocidade numa rua onde há um colégio em pleno horário de fluxo de alunos? Heloísa percebe que há algo de errado acontecendo e seu instinto policial começa a falar mais alto. Ela abre sua bolsa e sua pistola está guardada no coldre. Vamos nessa Helô.

Saindo da rua da escola ela consegue ver o tal motoqueiro parado mexendo em sua mochila marrom. Sem capacete, o homem não passa dos vinte cinco anos. Mattos passa por ele sem chamar atenção. No mínimo um traficante vendendo para alunos. Como sempre faz, ela resolve investigar para depois dar o bote. Que situação preocupante, nem mesmo na escola as crianças estão livres desses maginais. Heloísa pega o telefone e liga para Vinícius.

- Está em casa?

- Bom dia pra você também, Helô, estou sim, o que houve?

- Problemas.

- Que tipo de problema?

- Acho que o colégio onde Karen estuda anda sendo alvo de traficantes.

- Putz, sério? Que merda.

- E bota merda nisso, vou ficar de olho.

- Em que posso ser útil chefe?

- Anotei a placa da moto, preciso que você faça o levantamento.

- É só me passar.

As informações são passadas e Helô não estica o papo. Claro, sua vontade era de passar mais tempo ao lado de seu parceiro sem questões profissionais envolvidas. Quando chegará esse dia? Quando em fim ela tomará coragem para se declarar? É melhor que as coisas acontecem naturalmente? Ou simplesmente fazer com que elas aconteçam? A agente volta para casa ainda remoendo tais sentimentos. O dia será longo.

*

No almoço Heloísa toca no assunto do suposto traficante.

- Eu sempre o vejo lá no portão, mas nunca vi nada. - diz Karen cortando a carne.

- Ele fica sozinho?

- Não, os meninos mais velhos vivem em volta dele, as vezes rindo alto ou falando baixo.

- Todos os dias? - se serve demais salada.

- Quase todos os dias.

Depois do almoço enquanto Karen faz seu dever de casa trancada no quarto, Heloísa resolve dar uma volta pelo bairro. Sua cabeça está a mil por hora só de imaginar que adolescentes andam comprando entorpecentes no portão do colégio. Ela para perto da escola que está em pleno funcionamento no turno da tarde. Ninguém no portão. Ela resolve esperar e enquanto isso ela liga para Vini.

- Temos mesmo uma sintonia, eu iria te ligar nesse exato momento.

- Que bom saber disso. Então, conseguiu algo?

- Moto roubada a dois anos, infelizmente alguém perdeu a vida.

- Hoje mesmo vou pôr as mãos nesse vagabundo.

- Calma Helô, vamos fazer isso juntos.

*

Ele abre a mochila e confere se tudo está em ordem. Saquinhos com cocaína, uma pistola, uma soma em dinheiro e só. Ele joga a bolsa nas costas e sobe na moto dando a partida. Antes de chegar ao colégio ele para numa casa grande com uma bela fachada. Toca a campainha e em questão de segundos uma menina o atende sem abrir muito o portão.

- E ai, vai de quanto hoje?

- Toma. - lhe entrega uma nota de cinquenta.

- Eita, tá cheirando muito hein, pegou esse dinheiro onde?

A menina se irrita com os questionamentos.

- É da minha mesada, agora me passa logo.

- Certo.

A primeira venda do dia foi um sucesso. Tudo indica que o restante do dia será ainda melhor. Fazendo uma manobra desastrosa ele para perto da escola onde há uma moça maltrapilha balbuciando algo. Ele passa por ela.

- Ei, ei, tem algo legal ai?

- O que, você por um acaso tem grana?

A mendiga lhe mostra uma nota de vinte.

- Eita, onde arrumou isso?

- As pessoas hoje em dia são generosas.

- Tudo bem, vinte só dá pra dois. - abre a mochila e passa dois saquinhos. - toma. Agora mete o pé.

- Valeu, você sempre está por aqui?

- Aqui é o meu ponto, agora sai daqui.

- Você está preso.

Ele franze a testa.

- O que?

- Sim, está vendo aquele cara ali perto da sua moto roubada? - Vinícius aponta sua arma. - ele é um policial, deixe sua mochila no chão e coloque as mãos para trás.

- Calma.

Heloísa com truculência algema o traficante. Uma viatura chega. Vinícius conduz o meliante até o PM.

- Grande Nandinho do morro, finalmente nos conhecemos, perdeu jogador, entra ai. - disse o sargento da PM.

Mais um fora de circulação, Heloísa se sente orgulhosa. Vini termina com os PMs e se volta para a investigadora.

- Fez um bom trabalho.

- Fizemos.

- Você de cracuda não combina. - eles riem.

O rádio de Vini chama.

- Detetive Bastos, diga Medeiros, sim, já estou a caminho. - ele olha para sua parceira. - nova missão, vou nessa.

- Boa sorte.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 15/03/2018
Código do texto: T6280455
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