Os Segredos da Rua Baker 3: 14 - Irmãs

John se encontrava exultante ao vê Irene acordada e aparentemente bem. Não se podia apontar qual era mais reluzente: o seu sorriso ou o brilho nos seus olhos. Irene sorria para ele até perceber a necessidade de uma pergunta.

-Qual o problema? – Ela perguntou.

-Como assim: eu sei quem eu sou? O que quer dizer com isso?

-Exatamente o que eu disse. Mas, John, eu não sei de uma coisa importante.

-O que?

-Por que você está segurando a minha mão?

Ele ficou vermelho ao notar ainda segurar a mão dela, mas não chegou a soltá-la.

-Eu... Ahm... Você estava tremendo e se debatendo...

-E ao invés de chamar os médicos ou enfermeiros, você segurou minha mão?

-Eu me aproximei e ia correr a procura de alguém quando você disse meu nome. Apenas quis mostrar que estava aqui e nesse momento você acordou.

-Agradeço, mas pode soltar agora. – Ele solta imediatamente, um tanto sem graça. – Obrigada. Agora chame o médico e traga meu celular.

-Seu celular não estava nas suas coisas. Não sei dele.

-Pois me arrume um. Fale com o Mycroft ou a Alex, um deles vai mandar alguém trazer. Vamos, John, se apresse. Eu preciso disso logo.

Ele respirou fundo em dúvida se realmente estava contente por ela ter acordado.

O médico era um velho conhecido da Irene, ela colocou seu lado simpático para fora. John sempre achava esses momentos de persuasão dela muito divertidos, pois eram os únicos momentos em que a via com uma personalidade leve e absolutamente agradável. Quando o médico se retirou, após dá alta, como ela queria, o sorriso dela se desfez.

-Não tenho certeza se isso é prudente. – John expressou seu pensamento.

-Você o ouviu. Alguns exames e posso cair fora. O celular?

-Aqui. – Ele lhe entregou um aparelho novinho. – A Alex mandou faz pouco tempo.

-Obrigada.

Depois de uma bateria de exames atestando que a Irene estava em condições razoáveis, ela se preparou para deixar o hospital.

-Isso me parece muito precipitado.

-Oh, vamos lá, John. Viva um pouco. Tenho muito que fazer para me manterem presa aqui.

-Você estava inconsciente...

-John, eu estava com uma inflamação que já desapareceu. Continuei apagada para alinhar a minha mente. Eu estou bem. Não se preocupe. Agora pare de me perturbar e vamos sair daqui. Eu preciso de um banho de verdade. – Irene o olhou. – Eu estou de volta, John, com força total. Estou em chamas e preciso me colocar de volta ao jogo.

-Não sei se isso é bom. – John comentou após ela sair em uma empolgação a muito não vista.

Irene sabia bem o caminho que iria tomar de agora em diante, mas também sabia o quanto John não iria gostar. Ninguém iria, nem mesmo ela, no entanto era necessário. Ela agora conhecia Sigerson a fundo, mais que qualquer um naquela família.

Na 221B, Irene foi direto tomar um banho, John aproveitou para fazer um chá. Ele tinha a leve impressão de déjà vu. Logo começou a pensar em como esse minuto tão calmo iria terminar.

Irene retornou a sala com a jaqueta e as botas nas mãos, ela sentou no sofá se calçando quando John colocou as mãos na poltrona que costumava sentar.

-O que? – Ela perguntou.

-Qual o plano?

-Não posso te contar.

-Por que não?

-Você não vai gostar.

-Não deveria voltar.

-Você está ficando mais esperto a cada dia. – Ela mostra um sorriso cínico.

-Irene...

-Eu tenho de ir, John. – Ela levanta e pega a jaqueta. – Só que dessa vez eu estou no controle. Fique aqui. Logo estarei de volta.

-C-como... Como posso ter certeza... ?

-Logo estarei de volto. - Ela falou em tom de promessa.

Irene saiu deixando John apreensivo. Ele temia que Sigerson a colocasse em sua teia mais uma vez; que conseguisse abrir sua guarda usando seu vício. Ele parou em frente à janela onde a viu entregando dinheiro para uma moça na rua e depois entrou em um táxi. A tal moça chamou um garoto que saiu correndo após receber algo.

Ao chegar à mansão do tio, Irene sentiu algo completamente diferente das outras vezes. Agora ela estava calma, decidida e inteiramente preparada. Ela foi levada até a sala da lareira, Sigerson estava lendo um jornal enquanto tomava um chá. Quando a viu colocou seu melhor sorriso, até notar algo desconforme. Não havia medo, instabilidade ou confusão no olhar da sobrinha. Só havia uma grande tenacidade.

Irene sentou na poltrona antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa. Ela cruzou as pernas e pediu um uísque. Quando o trouxeram, ela tomou de um gole só e depois pediu para deixarem a garrafa.

-Eu realmente senti falta desse uísque.

-Você parece mudada.

-Não, nem um pouco. Bem, não estou mais instável ou desmemoriada. Você conseguiu trazer minhas memórias de volta. Obrigada.

-Quem está na minha frente agora? Não é mais minha sobrinha emotiva.

-Eu sou parte do que você quis me transformar e parte do que o Mycroft tentou esconder de mim. Eu sou Irene Holmes e sou eu quem dá as cartas agora.

Sigerson soltou uma risada de deboche.

-Você realmente acha que simplesmente por ter suas memórias de volta, é capaz de lidar comigo?

-Oh, eu não acho. Vim fazer um acordo inteiramente favorável a você.

-Estou ouvindo.

-Eu quero as provas contra o Sean. Em troca, venho morar aqui.

-Isso me cheira a armadilha. O que está aprontando?

-Você saberá quando acontecer. As provas.

-Eu vou precisar...

-Não. Entregue-as agora.

Sigerson a olhou desafiadoramente, mas Irene estava irritantemente tranquila. Ela tomou mais um gole do uísque pensando em como seria bom se tivesse um queijo para acompanhar, apesar de não ser muito de comer enquanto trabalha, porém após a experiência no hospital se sente como se estivesse provando tudo pela primeira vez.

Ela estava quase para perguntar sobre aperitivos quando Sigerson decidiu chamar seu mordomo de confiança, após lhe dá umas instruções este sai com a mesma cara impassível de sempre, retornando alguns minutos depois com os documentos que entregou diretamente a Irene.

-Obrigada. O uísque estava ótimo. – Ela pôs-se de pé. – Preciso ir.

-Como vou saber se realmente cumprirá sua parte?

-Não saberá. – Ela parou perto da saída e piscou para o tio. – Até mais, Sigerson.

Irene saiu dali direto para uma conversa inadiável. Ela foi entregar os documentos para o Sean e encarar as consequências dos seus atos para com sua irmã. Dessa vez decidiu tocar a campainha ao invés de apenas ir entrando. Sean e Diana estavam prontos para ir à universidade quando ouviram barulho de alguém chegando. Ele foi abrir enquanto ela terminava de se arrumar.

-Desde quando você toca a campainha?

-É algo novo. A Diana está?

-O que acha?

-Ok. Cansei disso. Com licença. – Irene entrou quase pisando no pé no cunhado.

-Diga a ela que estarei no carro.

Diana entrou na sala colocando um brinco, ela veio perguntando quem estava na porta quando viu a irmã ali parada. As duas ficaram assim se olhando sem nada dizer uma para a outra, até que Irene quebrou o silêncio.

-Então... Falhei duas vezes na tentativa de te matar. Isso vai fazer meu currículo ficar feio. – Diana a encarou com raiva. – Muito cedo?

-O que faz aqui?

-Eu vim me desculpar pelo que te fiz passar. Não só dessa última vez. Em todas. Eu entendo agora o que fez por mim... Em não me contar a verdade.

-Entende? Realmente entende?

-Diana, por favor, me perdoe por toda a dor que lhe causei...

-Não! Pare bem aí. Você não vai usar essa frase feita em mim. Eu te ensinei isso quando quis ser mais “humana”, porque um dos seus poucos aliados estava chateado com você. Ninguém é acostumado a te ouvir dizer essas palavras e é por isso que sempre funciona. Mas não comigo.

-Ok. Você quer sinceridade? Lá vamos nós. Eu ainda não entendo. Não estou mais com raiva, mas ainda não entendo. Você era a única pessoa em quem confiava. Sei que era uma criança e não teve escolha, mas e depois de crescidas? Por que continuar mentindo?

-Eu não pensava sobre isso há anos...

-Mesmo, Diana? Nunca pensou que tudo era culpa minha? Morar com o Mycroft, Lilian ser sequestrada, Sherlock estar "morto"... Nunca me culpou?

-Você... Sempre você! Eu fui negligenciada a minha vida toda porque você tinha muitos traumas, mas advinha: ELES ERAM MEUS PAIS TAMBÉM. Eu fui esfaqueada pela minha irmã e ainda assim só queria ter você de volta. Sim, eu menti! Desculpe se eu não queria perder você de novo.

-Bem aí! Esse é o ponto que eu queria. Lilian pode dizer que não fui minha culpa, Mycroft, Sherlock, você pode me perdoar. Todos dizendo que foi o diabo do Sigerson quem me obrigou. Mas você acha que serei capaz de me perdoar? Eu vi você crescendo sem os seus pais, sem sua família. – Irene respirou fundo e parecia ir embora, no entanto parou na porta aberta. – Certa vez, eu disse que não era a heroína que você queria que eu fosse. E isso é pelo fato de eu não resolver esses casos para salvar as pessoas. Eu faço porque eu gosto. Me energiza. Isso não é nada heroico. Mas, realmente me incomoda que eu nunca fui a irmã que você precisava que eu fosse. – Irene mostra um leve sorriso. – Se me conhece tão bem. Diga se estou mentindo.

Irene saiu dali deixando sua irmã pensativa para trás. Ela não tinha certeza se as coisas entre elas voltariam ao normal, porém não se preocupava com isso. A necessidade de proteção em relação à Diana havia sumido por completo, no entanto ainda se sentia em dívida. Na calçada deu de cara com o seu cunhado encostado no carro.

-Sabe, Irene, você sempre me ameaça caso eu faça a Diana sofrer. Eu devo dizer para não se preocupar comigo, já que você faz isso tão bem.

-Oh, Sean. Você é o mesmo. Pegue isso. – Ela lhe entrega os documentos. – Você está livre. De nada, querido cunhado.

Irene já estava passos distante quando ele viu do que se tratavam aqueles papeis. Ele entrou correndo em casa para mostrar para Diana que tomava um copo com água na tentativa de se acalmar.

-Ela conseguiu Diana. – Ela lhe mostrou um ar questionador. – Irene conseguiu as provas contra mim. Eu estou livre. Nós estamos livres.

Diana deixou o copo cair no chão.

-E ela está presa.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 28/03/2018
Código do texto: T6293211
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