INSÔNIA

Três horas da madrugada. Noite fria, com a bexiga cheia e apertada, Clara se cobre.

Tenta dormir mas a urina está quase saindo, dói. Não quer levantar.

O vento forte bate na janela de vidro sem cortina. O quarto está escuro.

Ela cheia de rituais para dormir, não deixa nada aceso, nem mesmo o standy by da televisão.Sofre de insônia desde muito cedo...tenta a todo custo dormir.

Levanta-se, chateada..sai tateando os móveis do quarto, passa pela porta e chega até o corredor.

Acende a luz, ainda de camisetão, calcinha e meias anda pelo corredor.Morava sozinha e nunca teve medo. Entra no banheiro, de frente ao espelho amarra o cabelo, olha e se vê.

-Estou com muitas olheiras. - Pensa.

Faz seu xixi...dá a descarga e sai do banheiro.

Ainda no corredor, decide ir à cozinha. Pega água e de repente um barulho.Barulho de lixo revirado, garrafas caindo. Clara se desespera, seu coração bate forte. Ela pega uma faca...cabo branco..grande.

Quem tá aí? - Ela diz.

Vem andando devagar, atenta ela respira rápido.

O coração apertado. Ela pressente o perigo. Pensa em sair correndo e pedir ajuda ao vizinho...mas talvez não dê tempo. Começa a pensar tudo junto e rápido.

Com a casa ainda na penumbra...ela vem andando.Abre a porta do quarto devagar...acende a luz..olha pra janela..ainda está encostada. Ela corre e tranca.

Com muito medo ainda, ela senta. Solta a faca do lado, ainda na cama.

Liga a tv, já perdeu o sono...deita e se cobre.

Já amanhecendo, clara começa a pegar no sono, se abraça com o travesseiro. Dorme.

De repente o colchao afunda, Clara acorda, tenta levantar. Alguém a prende na cama, ela sente o corpo pesado em cima dela, forte a lhe segurar. Não consegue pensar..respira rápido, se debate muito..tenta gritar.

E o que sente é a perfuração, a ardência do corte, algo líquido a molha...logo ela vê muito sangue..muita dor, cerra os olhos, a boca abadafa...outro corte, se vão dois dedos.

Clara é assassinada, o meliante começa a tirar-lhe todos os dedos da mão. Um por um.

Ele sai e volta com uma sacola de mercado. Tira um vestido de noiva. A veste, põe o sapato e junto com os dedos numa caixa em cima da mesa, põe a aliança intacta e nova, reluz e reflete o branco do vestido e mesclado com o vermelho vivo do sangue nas paredes e na cama.

O meliante era seu ex namorado. Havia avisado "ficaremos juntos para sempre". Sai andando, na vizinhança os cachorros denunciam com latidos e uivos a presença de algo.

Deixando o corpo lá ele desaparece. Clara sozinha agora dorme. Eternamente.

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 06/04/2018
Reeditado em 07/04/2018
Código do texto: T6301015
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