O tempo nao deixa esquecer

"-Sei que nao estou totalmente certa, mas nao posso esperar mais...alguem vai descobrir e..."

5 meses antes.

-Vou morar em Saravalle, nao aguento mais essa cidade mediocre, quero crescer, ganhar dinheiro, ser alguém, já que nao posso ser outra, pensava Virginia.

Virginia chegou a Saravalle aos 19 anos, alta, bonita e atraente.

Começou a trabalhar como secretária do Dr. Rubens, um dentista de quarenta e poucos anos.

Aos poucos ia conhecendo um a um todos os clientes, alguns simpáticos como a Sra. Candida, uma senhora sorridente e simpática e outros nem tanto, como o exigente Sr. Carlos Henrique, um homem sério e de poucas falas que beirava os 70 anos.

Certo dia a Sra. Candida, perguntou onde Virginia morava e ela respondeu meio enrubrecida, que morava num quarto alugado no fundo da padaria Cristal, entao ela lhe disse que tinha dois quartos vagos em casa e perguntou se ela aceitava morar em um deles, pelo menos nao se sentiria tao só.

Virginia a partir do dia seguinte mudou-se para a casa de dona Candida.

Era uma casa antiga, com algumas partes decorada com papel de parede, devia ter sido bem moderna para época que foi construida ha mais de 30 anos, tinha um cheiro que lembrava a mofo ou carne azeda e cortinas levemente desbotadas.

Seu quarto, era grande e sua cama era de casal, havia uma pequena mesa de canto, com flores secas mergulhadas dentro dele, o lençol de cima descombinando com o de baixo e coberta com uma colcha de piquet e um velho e ralo cobertor de la.

Todos os dias quando ela levantava já sentia o cheiro do café preparado por dona Candida, era a vida que ela pedira a Deus, até a roupa quando ela chegava já estava limpa e passada pela empregada de sua anfitria.

Virginia pensava todos os dias, "Agora só me falta arrumar um marido velho, rico e viver nessa mordomia para sempre."

Começou entao procurar seu rei encantado, pelo consultório, entre os pacientes do Dr. Rubens.

Passava horas analizando as fichas dos clientes um a um, até que um dia pegou a ficha do Sr. Carlos Henrique....viúvo.

-Dona Candida, a Sra. conhece o Sr. Carlos Henrique ? aquele Sr. que vai lá no consultório que trabalho?

-Lógico, quem nao conhece? Nasceu pobre e hoje é um dos homens mais ricos da cidade, tem fazenda de gado, frigorífico e muito mais, mas porque voce pergunta?

-Por nada é que acho que está tao triste...

-Ele precisa de companhia, um homem só vai ficando muito triste e agresivo.

-Sabe que temos a mesma idade? Fui apaixonada por ele quando éramos novos, depois me casei fiquei viúva, mas... ele se casou com outra e eu, segui minha vida.

Depois dessa conversa, Virginia começou a se arrumar bem melhor para receber o Sr. Carlos Henrique, com o mais lindo sorriso que poderia lhe oferecer, até o dia que ele lhe convidou para jantar.

Foi para casa, tomou um banho demorado e colocou o perfume nos lugares mais propícios para seduzir um homem.

Colocou seu vestido vermelho levemente decotaado, para nao demonstrar muita ousadia.

Aquela noite, foi como imaginava; um belo restaurante com uma requintada comida e depois de algumas taças de vinho, aceitou o convite para passar a noite ao seu lado, numa cama maravilhosa com lençois de linho.

Daquele dia em diante, recebia flores e convites par mais jantares e noites de amor.

Até que entre lençois recebeu um convite e um precioso anel de noivado.

Tudo aconteceu como planejado, há muito tempo.

Depois do casamento, na lua de mel, saiu até a sacada do quarto para respirar o ar puro da madrugada.

Observou algo no quintal, sim, viu no reflexo da lua.

Virginia saiu pela porta lateral e quando deu o primeiro passo sentiu uma pancada na cabeça e mais nada.

A policia foi chamada pelo marido desolado, buscaram toda a casa, quintal, sotao e até no porao, mas nada de Virginia, rastro algum.

Seu corpo nunca mais foi encontrado.

Candida, passou pelo amigo e perguntou:

-Sozinho outra vez?

-Sim, é a minha vida, nao tenho sorte, sozinho pela quarta vez e o que mais me impreciona é que todas desaparecem.

Candida, esboçou um leve sorriso no canto da boca enrrugada e continuou andando em direçao a sua casa.

Chegou em casa, fez um café e desceu para o velho porao, afinal tinha muito o que fazer, arrumar a terra fofa, etc...

Joaquina Affonso
Enviado por Joaquina Affonso em 19/04/2018
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