Aluga-se

O sr. Hayes recebeu-me à entrada, quando apareci para ver a casa do anúncio. Ela era de madeira, apenas um pavimento, e ficava no fim de uma rua residencial tranquila, cercada por árvores e arbustos. Um lugar realmente muito sossegado.

- Sr. Griswold? - Cumprimentou-me. - Como pode ver, a casa está precisando de uma pintura, mas as instalações elétricas e hidráulicas estão em perfeito estado de conservação.

- Nada que não possamos acertar - retruquei. - Eu mesmo posso fazer a pintura, se houver um desconto no aluguel.

- Poderemos ver isso depois, embora em princípio eu não pretenda fazer qualquer redução no preço anunciado. O valor que estou cobrando de aluguel, é metade do que encontraria nesta área por uma casa deste tamanho...

Nisso, ele tinha razão, tive que reconhecer. Entramos, e ele me mostrou os cômodos. Sala de estar, dois dormitórios, cozinha ampla, área de serviço, dois banheiros, garagem nos fundos. Piso de tábuas corridas, paredes pintadas de branco. Havia ainda uma porta que levava ao porão, e que ele desculpou-se por não poder me mostrar naquele momento.

- Acabou de passar por uma reforma e o concreto ainda está em fase de cura... dentro de mais uma semana, será seguro descer até lá.

- Mas o que houve com o porão? - Indaguei, curioso.

- Infiltração. Mas, já foi resolvido...

Fiquei olhando para a porta fechada, por alguns momentos, e depois voltei-me para ele.

- Bom, então é um mês de depósito e já posso me mudar para cá?

- Naturalmente - respondeu, satisfeito. - As suas credenciais são muito boas: solteiro, sem filhos, renda compatível e nenhum histórico de problemas com os senhorios anteriores. Se fizer o depósito hoje e assinar a documentação, poderá se mudar já neste fim de semana.

Respondi que faria o depósito e passaria no fim da tarde pela imobiliária para assinar a papelada. Acabei não fazendo nem uma coisa nem outra. O sr. Hayes era, obviamente, um "serial killer", que atraía suas vítimas potenciais para aquela casa e as enterrava no porão. E eu me enquadrava exatamente no perfil procurado por ele, já que forasteiros sem vínculos na cidade eram perfeitos para desaparecer sem deixar vestígios.

Mais tarde, naquela noite, liguei para ele e avisei que, caso fosse culpado pelos crimes que eu imaginava que havia cometido, tinha até às 6 h da manhã para dar cabo da própria vida. Em seguida, eu ligaria para a polícia e o denunciaria.

Quando a polícia chegou à casa dele, na manhã seguinte, encontrou-o enforcado no banheiro.

E eu, peguei o jornal do dia e comecei a procurar outro imóvel para alugar, na sessão de classificados...

- [27-04-2018]