O arrancador de brincos

Sua mão astuta acertava o alvo sem qualquer falha. Nos seus dedos, estava o registro de um assaltante de brincos. Seu prazer era arrancá-los de forma imperceptível e precisa. A vítima só percebia a orelha sem o adereço no dia seguinte, quando o reflexo da luz da Lua já tinha dado lugar ao Sol.

Como ele arrancava os brincos? Seria possível desvendar sua tática? Assim como um mágico, ele jamais revelaria seu truque... Sua vítima intrigada não entendia como não importava se com tarraxas, encaixados, de prata, ouro, argola ou pedra, eles permaneciam na orelha apenas no instante anterior ao suave toque.

O mais intrigante ainda é que misteriosamente as peças apareciam no outro dia em lugares distintos. Porém, um brinco de flor permanecia guardado como que para sinalizar que ele continuaria sua caçada. Para ele, os acessórios não eram apenas adereços.

Este ladrão era astuto demais. Usava a pele e olhar como imã para atrair o objeto de seu desejo para perto, bem perto, perto demais, o suficiente para que sua coleção crescesse a cada noite como peças de um quebra-cabeça que ele juntaria para montar um belo quadro em um cenário antes jamais imaginado, mas vivido agora, a cada precioso instante como uma jóia rara. Por fim, a vítima observando como ele agia, concluiu que ladrão ele não era, mas um colecionador de fragmentos de uma paixão.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 17/09/2007
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T656261