Vegvísir
[Continuação de "Skelkunarstafur"]
- Fomos até a casa de Emma Hjoertursdottir - declarou o policial Adriel Gudfinnursson. - E aí, a chuva desabou.
- O mesmo conosco no cemitério - replicou o inspetor Ormar Halldorsson. - Mas o que foram fazer na casa da mãe de Margit Hrimnirsdottir?
- Bertelsson recebeu um chamado da dama Hjoertursdottir - explicou a policial Kristensa Saivinsdottir. - Disse que havia visto a filha sentada no muro da fazenda, olhando em direção ao quarto da mãe...
- Que coisa sinistra! - Comentou alarmado o assistente Dyri Steinkellsson.
- E vocês não viram nada, espero... - ponderou o inspetor Halldorsson.
- Pensamos ter visto alguém fugindo pela encosta em direção ao mar, mas a chuva começou a cair forte e desistimos da perseguição - admitiu Gudfinnursson.
- Se fosse um zumbi, provavelmente a chuva não o teria afugentado - avaliou Halldorsson, lançando um olhar incisivo para Steinkellsson. - Então, muito provavelmente estamos lidando com alguém bem vivo...
E virando-se para Salóme Sigtryggsdóttir:
- Concorda, dama Sigtryggsdóttir?
- Eu não vi o que os seus policiais viram - redarguiu ela, dando de ombros. - Portanto, é difícil avaliar. Mas estou incomodada pelo fato deles estarem de pé, do lado de fora da sala, e não fazerem menção de entrar e conversar mais de perto. Parece-me muito desconfortável ficarem aí, ainda mais com essas capas molhadas...
- Estávamos indo para o porto, só passamos para ver como estavam as coisas - declinou Kristensa Saivinsdottir.
- A minha sala é meio apertada mesmo - acrescentou o inspetor, em tom de desculpas.
- Não gostaria de pegar uma carona e vir conosco, dama Sigtryggsdóttir? Podemos deixá-la na porta do seu hotel - sugeriu solícito Adriel Gudfinnursson.
- Está caindo um dilúvio - ponderou Steinkellsson. - Creio que eu mesmo posso deixar a dama Sigtryggsdóttir no hotel, quando a chuva amainar.
Subitamente, Salóme Sigtryggsdóttir ergueu-se resoluta da cadeira onde estivera sentada.
- Pensando bem, acho que vou aceitar a oferta dos seus policiais, inspetor Halldorsson.
- Tem certeza? - Indagou ele, preocupado. - Steinkellsson já se ofereceu para levá-la.
- Essa tempestade pode durar horas; prefiro voltar ao hotel. Amanhã, continuamos - insistiu a velha senhora.
- Está bem - acatou ele.
E para os policiais:
- Dirijam com cuidado!
- Você nos conhece, chefe - retrucou Saivinsdottir.
Salóme Sigtryggsdóttir saiu da sala e foi atrás da dupla de policiais. Na antessala, Gudfinnursson apanhou um guarda-chuva e o abriu, para dar proteção à visitante até que ela se instalasse no banco de trás do Volvo V90 Cross Country, estacionado em frente ao posto policial. Finalmente, deu a partida, e saiu vagarosamente em direção ao porto da ilha, sob a chuva que caía em ondas, fustigada pelo vento.
- O que foi que vocês viram na fazenda de Emma Hjoertursdottir? - Indagou então Sigtryggsdóttir, calmamente.
Os policiais à frente dela nada responderam, sequer se viraram, mas Sigtryggsdóttir viu que, mais à frente, numa curva da estrada, imóvel sob a chuva incessante, havia alguém aguardando: uma adolescente ruiva, cujo vestido azul molhado, colava-se ao corpo.
- Que tempo horrível para se estar fora de casa - comentou Gudfinnursson, reduzindo a velocidade.
- Importa-se se dermos uma carona à jovem? - Indagou Saivinsdottir, olhando para a passageira pelo espelho retrovisor.
- De modo algum - redarguiu Sigtryggsdóttir.
O automóvel parou. A porta do lado oposto ao de Sigtryggsdóttir abriu-se, e ela viu-se diante de uma figura etérea e completamente encharcada, que sentou-se placidamente ao seu lado.
- Vi peixes nadando nesta chuva - declarou a garota, antes que o Volvo retomasse seu caminho.
[Continua]
- [27-06-2019]