LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte dois - Capítulo quatro

Linha Policial

Paulo Alves

A polícia entende que precisa dar uma resposta a sociedade, algo precisa sim ser feito ou toda cidade se transformará num campo de batalha onde só um lado sairá vencedor. O que esperar das autoridades que deveriam apoiar esses homens que se arriscam dia após dia para tentar manter o que restou da cidade? Nada. Eles simplesmente fecham os olhos e fingem que nada está acontecendo. Ou pior. Para alguns, quanto mais violência melhor. Quanto mais vagabundo circulando pelas ruas livremente melhor para meia dúzia de engravatados que lucram com o tráfico e outras ações.

Boa parte da população entende que é fundamental que o estado esteja presente. O cidadão de bem sabe que mesmo em meio a esse antro de salteadores, existe gente lutando por eles. Gente como Paulo Alves e sua equipe. Por isso, nada está perdido, ainda há uma ponta de esperança nos corações. As viaturas voltaram para as ruas, o plano será seguido a risca. Quando todos estão unidos e focados, não tem como dar errado. A ordem foi dada, buscar o meliante dentro de casa. Mais uma vez na condução da viatura, Alves voltou a pensar em Janaína e Também em Mara. O que ambas devem estar fazendo agora? Pensou.

*

Janaína desceu as escadas do prédio apressadamente para tentar comer alguma coisa antes de voltar para a redação. Vinte minutos, foi o que restou do seu almoço. Ela preferiu terminar de editar o texto de sua matéria do que fazer isso depois do almoço. Já na calçada, usando uma bermuda jeans e camisa de uma banda de rock internacional e sua inseparável mochilinha de couro azul, a namorada de Paulo Alves sofreu um esbarrão que quase a levou ao chão.

- Eita! – disse ela.

- Aí, me perdoa, Janaína Lopes. – desdenhou Mara.

A jornalista olhou fixo aquela deusa em forma de mulher engolindo toda raiva.

- Ora, ora, se não é a amada, idolatrada, salve, salve, Mara Santos, que desprazer em vê-la.

- Cruzes!

- Fala logo o que você quer, estou no meu horário de almoço.

- Eu? Nada, só estava passando e...

- Arruma outra por que essa não rola. Eu sei que você vem sondando o Paulo, querendo saber como estamos, certo? – ajeitou a mochila.

- Imagina. Eu? Sondando o Paulo. Eu tenho mais o que fazer, você não acha?

Visivelmente irritada, Janaína precisou ficar na ponta dos pés pra falar.

- Se liga só, ó piranha, esquece o Paulo, por ele já te esqueceu faz tempo, a neguinha aqui fez isso. Graças a Deus estamos muito bem e para matar sua curiosidade, ele e eu transamos todos os dias, entendeu? TODOS! – saiu andando deixando a morena com a boca aberta.

- AFF, barraqueira!

*

Paulo Alves jogou o carro na calçada. Ao ver a movimentação policial o sujeito que estava em pé, parado na porta de um bar, correu para dentro derrubando às mesas. Alves desceu junto com outros agentes.

- Vá por trás. – gritou.

As poucas pessoas que ali estavam bebendo foram rendidas e todas revistadas. Paulo entrou correndo loja a dentro com a arma em punho. Um disparo quase o acertou.

- Droga. – se abrigou atrás das caixas de cerveja.

Mais tiros. Estilhaços de vidro voam por todos os lados. Foi preciso deitar-se no chão e revidar.

- Aqui é a polícia, você está cercado. – gritou o detetive.

Agora o atirador pegou pesado. O bandido esqueceu o dedo no gatilho fazendo da parede, vidraças, garrafas de vinho, uísque, vodca uma chuva cristalina. Todo vagabundo é burro e Paulo sabe disso. Eles não sabem atirar, mas ele sim. De maneira inteligente o policial aguardou a munição de seu oponente acabar para então mandar ver. Alves se baseou mais ou menos de onde vieram os tiros e disparou contra o balcão de madeira. Dois disparos, não mais do que isso. O grito gutural do marginal denunciou sua localização e Também o seu estado.

- Saia com às mãos pra cima, vamos.

Silêncio.

- Não vou repetir.

Um policial que estava nos fundos abriu abruptamente a porta que dá acesso ao balcão e sinalizou para o líder.

- Esse já era, Paulo.

- E lá fora, como estão as coisas? – colocou a arma no coldre atrás da calça.

- Dominamos tudo. Me parece que aqui era um tipo de escritório. Segundo testemunhas, Peixe, a cada quinze dias estava aqui, junto com o Filé, cobrando e fazendo pagamentos.

- Ótimo. Leve todos para o DP. Quero mais informações.

Dois a zero para a polícia. Mais um elo da corrente da vagabundagem que foi rompido. Paulo deixou aquele lugar com cinco elementos algemados. O corpo do bandido morto permaneceu no local até a chegada da defesa civil. Depois de uma rápida conferida nos documentos do cadáver, Paulo Alves pressupôs de que se tratava de um dos homens de confiança de Peixe, o qual foi designado a chefiar aquela região. O corpo foi retirado e junto com seus parceiros de farda, Alves comemorou mais uma façanha.

- Ainda não ganhamos a guerra, mas, se a cada dia, uma batalha for ganha, não tenham dúvidas, iremos desarticular a quadrilha do Peixe.

Não adianta dizer o contrário. Quando um agente se encontra focado e principalmente, determinado, só quem tem a ganhar é a população que aos poucos vai vendo o índice de roubo de veículos caindo. Paulo, assim como Damião Ramos, sabem que é o tipo de trabalho que só as formigas fazem. Aos poucos e com a concentração ligada no máximo. Todos os oficiais envolvidos nessa operação aguardam o contra ataque que certamente virá. Peixe não vai deixar isso barato, ainda mais sendo ele um ex policial, conhecedor dos procedimentos.

- Não vamos dar a chance deles se recomporem. Temos que sufoca-los até eles saírem dos buracos. – disse um agente.

- Vamos nessa então. – Paulo bateu no teto da viatura.

*

Assim que entrou com o carro na garagem, Alves sentiu o cheiro da comida sendo preparada. Se Paulo é um cara de sorte? Sim. Janaína além de ser uma mulher carinhosa, dedicada, é também uma cozinheira de mão cheia. Muito diferente de Mara que conseguia queimar ovo e miojo. Não importa o cansaço. Uma boa comida faz qualquer um sorrir no final de um dia agitado.

- Ufa! Consegui chegar cedo.

Janaína estava mexendo a panela quando Paulo a abraçou por trás.

- Já vai ficar pronto.

- Legal. Vou tomar um banho rapidinho.

- Estive com a Mara hoje.

Alves parou no meio do caminho.

- Ela teve coragem de ir até a redação?

- Não. Nos esbarramos na rua. Aquela mulher é louca mesmo. Mas pode deixar, acho que ela não vai mais atrapalhar a gente. Mandei umas verdades na fuça dela.

- Que assim seja. – ergueu os braços para o alto.

Janaína saiu de cima de Paulo e rolou para o seu lado da cama. Ambos estão ofegantes depois de duas horas de sexo intenso. Suada e descabelada, a jornalista se levantou rapidamente e correu nua até o banheiro.

- Aí, preciso fazer xixi.

- Volta logo. Já estou me animando de novo. – disse Paulo esparramado na cama.

- Meu Deus, sério, ainda vai querer a segunda? – falou se sentando no sanitário.

- Lógico. – riu.

O celular vibrou em cima do criado mudo. Era Damião Ramos.

- As ordens, chefe.

- Preciso que vá até a Rua Setembro. Carvalho foi morto. Tudo leva o crer que foi obra do Peixe. Estarei chegando lá em meia hora.

*

Como não se revoltar ao ver o corpo de um companheiro crivado de balas e jogado no canto da rua? Como não ficar consternado ao vislumbrar tal cena? Rapidamente o local foi isolado por fita amarela com polícias ao redor do cadáver. Paulo Alves abriu caminho entre os curiosos e ergueu seu distintivo. Sem tocar nas fitas ele passou por entre elas e caminhou a passos não tão firmes até o corpo. Ele não queria acreditar, mas seus olhos disseram que sim, era Carvalho, membro de sua equipe na operação. Soldado dedicado, um bom policial, tinha a confiança de todos, principalmente do chefe Ramos. Um jovem agente que tinha tudo para crescer na profissão.

- Merda! – disse baixo.

- Pegaram ele numa emboscada. – começou o policial fardado. – Carvalho estava naquela galeria do outro lado do bairro. Saiu de lá e veio andando, ele mora aqui próximo.

- É, já estavam de olho nele desde da galeria. Foi o Peixe.

Nesse meio tempo. Damião Ramos desceu da viatura que ele próprio conduzia , acompanhado por outros oficiais. O chefe caminhou de maneira desastrosa, esbarrando e se desculpando ao mesmo tempo até Alves que ao vê-lo se sentiu intimidado. O suor grosso que escorre desde a cabeça até o pescoço, encharca a camisa branca embaixo do paletó.

- Vamos tirar essas pessoas daqui, vamos, pessoal. – disse Ramos em alto e bom tom.

- Foi uma emboscada, chefe. Um recado. – Paulo engoliu seco ao ver os olhos de Damião faiscarem.

- Me diga uma coisa que eu ainda não saiba, detetive. – olhou para o corpo. – qual o próximo passo, Alves?

Paulo Alves sabia que iria sobrar para ele. Chefe Damião Ramos é do tipo de líder que adora ver seus liderados tomarem iniciativa. Ele gosta de ter ao lado guerreiros dispostos a tudo. No momento o detetive não sabia o que responder, mas foi obrigado a retomar o controle da situação. Ramos quer briga.

- Reúna os homens, chefe. Vamos a guerra. – saiu.

Vendo seu novato se afastar, o coração de Damião saltou de orgulho. Ele se lembrou dos velhos tempos quando era apenas um investigador, sedento por fazer justiça. O corpo de Carvalho era retirado quando Ramos acionou seus homens via rádio.

- Atenção. Vamos fechar a cidade. Isso é uma ordem. Prendam Antônio Carlos o vulgo Peixe.

O rádio foi deixado no banco do motorista. Do outro lado da rua, encostado em seu próprio veículo, Alves olhava para o chefe.

- Chefe Damião, quero o senhor comigo.

- Às ordens, detetive Alves.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 23/09/2020
Código do texto: T7070464
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