O Assassino da Interestadual
Valerie Hull não viu a morte chegar. Ao volante do seu Ford Taurus branco, ano 2007, a mulher de 49 anos seguia pela Interestadual 25 no sentido Las Cruces, Novo México, quando, próximo de Mesa Redonda, um pneu de caminhão veio quicando da pista oposta e, a 90 km por hora, espatifou-se contra seu para-brisa. Hull perdeu o controle do veículo, que capotou várias vezes antes de terminar de rodas para o ar no acostamento. Quando os paramédicos chegaram, quinze minutos depois, a encontraram sem vida entre as ferragens.
- O carro foi atingido por um pneu que se soltou de um caminhão - informou uma testemunha, Christopher Mitchell, que vinha dirigindo atrás da vítima, e parara para tentar prestar socorro e chamar a polícia.
- Tem alguma informação sobre o veículo que provocou o acidente? - Indagou o patrulheiro Evan Shepherd, o primeiro a chegar ao local.
- Confesso que não estava prestando muita atenção na hora - admitiu Mitchell. - Minha atenção ficou no Taurus, que capotou várias vezes. Mas vi onde o pneu foi parar.
Levou o patrulheiro até o local onde estava o pneu, arrebentado, cerca de 50 m de distância da estrada.
- Provavelmente, se soltou da carreta - avaliou o patrulheiro. - O caminhoneiro nem deve ter percebido, só vai se dar conta quando parar para reabastecer.
E emitiu um alerta para a polícia de Mesa Redonda.
* * *
Jacob Morgan, um caminhoneiro de 1,90 m de altura e 110 kg de peso, acordou na boleia do cavalo mecânico, estacionado junto a um posto de gasolina nos subúrbios de Mesa Redonda; alguém estava batendo na porta do veículo.
- Abra! É a polícia!
Morgan ergueu-se, na cama armada atrás dos bancos, e esticou-se até a janela no lado do carona. Havia um carro da polícia de Mesa Redonda parado lá fora, e dois patrulheiros junto ao cavalo mecânico. Um deles, Evan Shepherd, era o que estava batendo.
- Um momento! Deixe eu vestir as calças! - Gritou de volta.
Saiu, instantes depois, sem camisa.
- Você é dono de um baú de três eixos, que está na oficina do Ed para troca de um pneu? - Inquiriu Shepherd.
- Sim, o baú é meu - confirmou Morgan. - Quando parei para reabastecer, ontem à noite, vi que um dos pneus havia caído na estrada. A manutenção da empresa é uma droga...
- Provavelmente, o seu pneu atingiu um carro ontem, na I-25 - informou Shepherd. - Uma mulher morreu.
Morgan ergueu os braços, defensivamente.
- Ei! Eu não fiz nada! Se foi o meu pneu, foi um acidente!
- Mesmo assim, você vai ter que vir conosco até a delegacia, prestar depoimento.
- Melhor fazer logo o teste do bafômetro - sugeriu o outro patrulheiro, Cory Hughes.
Em seguida, Morgan foi levado para a delegacia no banco de trás da patrulha.
* * *
- O sujeito está limpo; sem uso de álcool, drogas ou infrações de trânsito - informou o detetive Ricardo Franco, polícia de Mesa Redonda, para o xerife, Craig Dillon. - Mas sem qualquer dúvida, o pneu que matou Valerie Hull saiu da carreta dele.
- Como é de outro estado e só estava aqui de passagem, melhor pedir prisão preventiva e deixá-lo preso até o julgamento - avaliou o xerife.
- Eu vou falar com a promotoria - assentiu Franco. - Todavia, o juiz pode não concordar com uma fiança alta, já que o caso parece ser apenas um acidente de trânsito.
- De fato, mas a detetive Hatfield informou ter recebido uma queixa sobre um tumulto no estacionamento onde Morgan estava, na noite anterior à prisão. Seria bom também falar com ela - sugeriu o xerife.
- Morgan estava envolvido? - Questionou Franco.
- Há uma testemunha, mas a vítima não foi localizada - resumiu Dillon.
Monica Hatfield estava tomando um café em sua mesa na delegacia, quando Franco aproximou-se, a pasta do caso Morgan nas mãos.
- Dillon disse que talvez tivesse algo sobre o caminhoneiro preso - comentou.
- Não é exatamente um fato conclusivo, mas a gerente da lanchonete do posto de gasolina afirma ter visto um caminhoneiro espancar uma prostituta no estacionamento, ontem à noite. Pela descrição, só pode ser o Morgan.
- E a prostituta?
Hatfield deu de ombros.
- Desapareceu sem prestar queixa. Isso não é exatamente incomum, você sabe.
- Sim - Franco balançou a cabeça. - Podem ter se desentendido sobre o preço ou sobre o serviço prestado; e procurar a polícia seria a última das opções destas garotas.
- Por isso se tornam vítimas perfeitas para esse tipo de abusador - replicou Hatfield, tomando um gole do café.
- Abusador... - repetiu Franco, pensativo. - Acho que vou pedir um teste de DNA desse sujeito.
- Está desconfiado de alguma coisa? - Indagou Hatfield.
- Só por precaução - replicou Franco.
* * *
- O juiz está propenso a pedir uma fiança baixa no caso Morgan - informou a promotora Sophia Maddox quando Franco ligou para ela, dois dias depois. - Entende que ele não oferece risco para a sociedade e que nada terá a ganhar se não comparecer ao julgamento.
- Eu estou aguardando um retorno do pedido de informações que enviei ao FBI - explicou Franco. - Tente conseguir pelo menos mais 24 h de preventiva com o juiz.
- Vou fazer o possível, mas sem uma justificativa sólida, é possível que tenhamos que colocá-lo em liberdade ainda hoje à tarde.
- Infelizmente, a prostituta espancada não prestou queixa - lamentou-se Franco. - Tentarei apressar as coisas em Santa Fé...
Para alívio de Franco, antes do término do prazo dado pela promotoria, o FBI fez contato, com novidades sobre Morgan.
- O DNA dele está relacionado com dois casos em aberto, de prostitutas mortas no Texas e Arizona - informou o agente do FBI que ligou para Franco. - Parece que você pegou um serial killer, Franco.
- Por puro acaso - minimizou Franco. - Tudo por conta de um acidente de trânsito, do qual provavelmente ele seria inocentado...
- Pelo visto, mais uma mulher teve que morrer para que pudéssemos finalmente pôr as mãos nesse criminoso - sentenciou o agente.
- [10-02-2021]