O interrogatório cordial

Michael, o Caça-Fantasmas, logo percebeu que a viatura que havia ido buscá-lo em sua residência, não estava seguindo para o necrotério municipal.

- Uma pequena mudança de planos - informou o policial uniformizado que conduzia o veículo. - O detetive Willems pediu que o levasse primeiro à Delegacia de Homicídios.

Michael engoliu em seco. Temia que fosse sair da delegacia algemado, mas não foi o que ocorreu.

- Um café, refrigerante, senhor Weggeman? - Indagou cortesmente Willems, ao recebê-lo numa sala de interrogatórios, onde já o aguardava o detetive Ortiz.

- Uma água, por favor - solicitou Michael, que já começava a sentir a boca seca.

Após aguardar que bebesse o copo d'água, Willems sentou-se na beirada da mesa por detrás da qual Michael estava sentado, e foi direto ao assunto:

- Sabemos que o mafioso Evodio Del Bianco o chamou à Nordhafen para extrair informações de um dos seus capangas, Lorenzo, que estava com morte cerebral decretada - disse o detetive. - Mas alguma coisa deu muito errada, e Del Bianco e dois de seus guarda-costas foram mortos por este mesmo Lorenzo... com as mãos nuas. Qual foi, exatamente, a sua participação no caso?

O rapaz entrelaçou as mãos sobre a mesa e tentou não gaguejar.

- Bem... eu estive lá, realmente, mas não tive nada a ver com as mortes... quando saí, os três estavam bem vivos!

- Temos ciência disso - redarguiu Ortiz, que ouvia a conversa de pé, braços cruzados, do outro lado da sala. - Você não está sendo acusado de ter cometido os assassinatos, mas o que fez Lorenzo se voltar contra seus companheiros? Você estava presente, deve ter alguma ideia dos motivos do crime.

Foi então que Michael percebeu, aliviado, que os policiais estavam completamente no escuro sobre sua interferência direta na incorporação de Lorenzo pelo demônio Rodney; eles achavam realmente que ele era capaz de falar com os mortos, ou coisa parecida.

- Bem, sim na verdade - afirmou, sentindo-se mais confiante. - Ao trazer a consciência de Lorenzo de volta ao corpo, ele disse que havia sido traído por Del Bianco, e que iria ter a sua vingança. A partir daí, começou a pancadaria e eu fugi para não ser morto.

Ortiz olhou para Willems.

- Eu te disse; foi um acerto de contas da quadrilha.

- Devíamos ficar agradecidos ao Sr. Weggeman - ponderou Willems. - Del Bianco controlava o jogo ilegal em Nordhafen; com ele fora do páreo, será mais fácil desbaratar o bando.

- Ao menos, é o que esperamos - admitiu Ortiz, virando-se para Michael. - Mas então, passando ao assunto que abordamos em sua residência...

- Temos um corpo no necrotério, - prosseguiu Willems - vítima de homicídio. É um caso de grande repercussão e nos economizaria tempo de investigação se ele pudesse nos dizer quem o apagou.

- Sim, entendo - disse Michael, balançando afirmativamente a cabeça. - Acho que posso ajudar, sem dúvida...

Willems ergueu-se da mesa.

- Ótimo, Sr. Weggeman. O senhor nos ajuda, e nós o ajudamos - declarou, com um sorriso enigmático.

- [Continua]

- [25-10-2021]