A poltrona

A poltrona estava vazia á 25 anos, até aquela segunda-feira as 8 30 da manhã quando o investigador da polícia bateu na minha porta para perguntar sobre o assassinato do apartamento em frente. Entrou em casa com suas botas sujas espalhando restos de crimes, a sala não via uma vassoura desde que a poltrona foi usada pela última vez, mas não queria tampouco sujeiras que não fossem as minhas ali. O pior foi ele ter entrado e sentado na poltrona, era a poltrona dela, de seus dias de chá e choro, era o único móvel que eu conservava limpo com o rigor de uma sala cirúrgica.

Perguntou se escutei algo na noite anterior, se era amigo do vizinho e por último se ajeitou na poltrona que rangeu com seu peso e com os olhos dilatados perguntou se eu o havia matado. Para minha sorte a minha casca fora criada ao longo de 25 anos de solidão e confinamento, meu sim, com sarcasmo e seguido de uma xícara de café recém-preparado desviou a atenção daquele brutamonte que levantou após tomar um gole fervendo como se fosse refresco, antes de sair do apartamento deu uma última olhada em volta e saiu, na mesa a chave de fenda manchada de sangue seco me encarava rindo.

montezyin
Enviado por montezyin em 09/05/2022
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