EDGAR SOLENE | O caso Amanda Rosa | capítulo 3

*

Era sempre muito estranho deixar a casa de Clemente. Se por um lado ele às vezes – pra não dizer sempre – era chato e rabugento, por outro ele era um mar de conhecimento onde eu adorava mergulhar profundamente. Muitas vezes não sentia vontade de ir embora. Esse dia foi um exemplo disso. Eu gostava do Clemente e se passasse uma semana sem visitá-lo sentia saudade.

Cheguei ao departamento muito bem disposto e um pouco mais esperançoso. Se aquele pêlo pubiano fosse mesmo do assassino eu o teria preso ainda aquela semana. Antes de ocupar minha mesa resolvi deixar minha superior por dentro dos fatos. Como era exigido por ela, bati três vezes e aguardei.

- Entre!

Lá estava ela. Edna Marques. Delegada famosa por não dar mole e nem confiança a ninguém. Quase cinquenta anos. Cabelos longos e lisos que ornamentavam um rosto bonito e raivoso. Pra falar a verdade, se vi dona Edna rindo duas vezes em todo o tempo que fiquei na polícia foi muito. Ela me dava medo.

- Pode falar, agente Solene.

- O caso Amanda Rosa.

Edna seguia escrevendo.

- Sim?

- Acho que temos uma prova...

- Acha ou tem certeza?

Putz!

- É! Certeza.

Finalmente ela soltou a caneta, entrelaçou os dedos e olhou para mim com uma de suas sobrancelhas erguidas.

- Encontramos um pêlo pubiano dentro da boca da vítima e esse material já foi encaminhado para analise.

Minha chefe me olhava sem piscar. Eu me lembro que, assim que fui transferido para trabalhar naquele departamento, ouvia-se pelos corredores um assunto engraçado que mais tarde cairia em seus ouvidos. Alguns acreditavam que Edna Marques era um robô. E ao vê-la sem expressão e sem reação essa lembrança me veio a mente.

- Um pêlo pubiano? – Edna tirou os olhos de mim rapidamente.

- Sim, senhora. – engoli seco.

- Você está certo, Edgar. Devemos checar qualquer possibilidade. – ela pegou a caneta. – é só isso?

- Por enquanto.

*

Mesmo sabendo que precisava passar em casa, falar com meus pais e organizar algumas coisas, decidi ficar aquela noite com Jacke mais uma vez. Minha mãe havia dito várias vezes para que eu agilizasse o processo do casamento, mas a própria Jaqueline não queria formalizar nossa união. Morar junto para ela já era mais que o suficiente. Indo para casa da minha garota liguei para os coroas. Minha mãe atendeu.

- Vou dormir na Jacke hoje.

- Pra variar, não é? – disse rindo.

- Amanhã sem falta passo ai. Cadê o velho?

- Está aqui, lendo. Vou passar pra ele.

- Fala coroa!

- Oi, Edinho. Quando teremos aquela revanche de xadrez?

Putz, havia esquecido disso.

- Com certeza amanhã. Vai treinando pra não perder outra vez.

- Treinar pra que? Tudo bem meu filho. Manda um beijo pra Jaqueline.

Encerramos a ligação e o meu coração estava em pedaços. Graças a Deus eu tinha meus velhos ainda vivos e era sempre muito bom aproveita-los. Entrei em casa, Jacke me aguardava sentada na sala.

- Oi! – disse eu me sentando ao lado dela. – fez as compras?

- Sim! Nossa dieta começará oficialmente amanhã. – me beijou.

- Hum, então devemos aproveitar nosso último dia de guloseimas. Que tal uma pizza? – sugeri.

- Nada disso. – sentou em meu colo. – eu como às massas e você me come.

- Não é má ideia.

Essa era uma das regras dentro daquela casa. Sexo pelo menos quatro vezes por semana. Minha Jacke mandava bem na cama. As gordinhas são as melhores pra mim. Transamos muito naquele sofá e depois saboreamos uma deliciosa pizza assistindo série. Meu celular tocou, era Roni.

- O pentelho pertence a um tal de Rafael da Silva. Conhece?

- Não, mas vou conhecer.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 16/09/2022
Código do texto: T7607143
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