EDGAR SOLENE | O caso Amanda Rosa | capítulo 4

Mesmo sob os protestos de Jacke eu fui até o IML naquela noite. Queria ver de perto o resultado das análises. Cheguei ao local perto da meia-noite com meu corpo me recompensando pelas duas horas de sexo com minha amada. De cara o sacana do Roni percebeu meu abatimento.

- Mil desculpas por lhe tirar dos braços de sua mulher.

- Relaxa.

O corpo de Amanda Rosa ainda se encontrava lá, deitado, despido sobre uma mesa de aço inoxidável gelada. Ela era uma garota de família estruturada e bem financeiramente falando. O pai possuía uma rede de lojas de eletrônicos e a mãe uma engenheira civil bem requisitada. Amanda tinha uma irmã mais velha com família constituída. E ela enveredou-se por esse caminho tortuoso, perigoso e fatal. Fiz uma busca minuciosa sobre meninas que vendem conteúdo erótico via internet e descobri que algumas conseguiam tirar por dia o equivalente ao meu salário mensal. É o que eu sempre digo, dinheiro é bom, mas é capaz de corromper até o mais santo de todos os santos.

- Além do pentelho, havia outro material genético na boca dela. O cidadão não chegou a ejacular, mas deixou seu lubrificante natural lá dentro. – falou me entregando o papel.

Rafael da Silva. Li.

- Pelo que sei ele já é fichado por agressão. Vai ser fácil pega-lo.

- Certo! – olhei para o cadáver. – vai libera-lo para o sepultamento?

- Sim! – respondeu Roni soturnamente.

Inspirei e expirei.

- Valeu, Roni, fez um bom trabalho. Vou nessa.

*

Antes de acionar a ignição algo me veio a mente. Algo que com certeza me deixaria no mínimo comovido, mas eu precisava tirar aquela história a limpo. Peguei meu celular. Abri o site de busca. Digitei correndo o endereço de um outro site de conteúdo erótico e...

- Amanda Rosa. – digitei no buscar desse site.

Pronto! Amanda surgiu em vários quadrinhos. Cliquei num aleatório respirando fundo. Ela apareceu vestida de enfermeira. Seduzindo quem quer que estivesse assistindo. Ao final ela divulga sua página no Instagram convidando a todos que a visite. Cliquei em outro vídeo. Amanda vestia apenas uma calcinha vermelha. Seios médios amostra. Uma menina formosa, saudável e cheia de vida. Maldito Rafael, pensei saindo do site. Para evitar desconforto entre Jacke e eu, achei melhor limpar o histórico de buscas uma vez que minha namorada adorava mexer em meu aparelho. E por falar nela, liguei o carro e parti pra casa dela.

*

Abri os olhos naquela manhã e logo dei falta de Jacke. Ainda sonolento caminhei tropeçando nos próprios pés. Meus ossos estalavam muito mais na parte da manhã nessa época e eu nunca procurei saber o motivo. Jacke tomava seu banho tranquilamente quando invadi o box a deixando com o couro cabeludo arrepiado com o susto.

- Merda! – vociferou.

- Preciso que lave minhas costas. – usei de desculpas.

Já refeita, ela se virou me beijando.

- Só às costas?

Esqueci de falar, Jaqueline é farmacêutica, profissão que aspirou desde quando ainda cursava o fundamental indo de encontro ao desejo do pai. Seu Osvaldo queria que a filha fosse militar. Jacke sempre foi uma pessoa de personalidade muito forte e graças a isso, hoje ela é uma mulher realizada.

Nada como começar o dia fazendo amor com a mulher amada debaixo de um chuveiro quente. Maravilha. O meu dia não seria fácil, por isso fiz questão de preparar meu físico e também o psicológico. Deixei Jacke na farmácia e parti para as buscas. Rafael da Silva precisava ser detido e tirado de circulação imediatamente. Pelo seu histórico isso já deveria ter sido feito a muito tempo, mas o que esperar de uma justiça cheia de rachaduras? Uma justiça que favorece somente os poderosos? O trabalho da polícia é formidável, necessário, o que atrapalha é justamente quando tudo sai das nossas mãos, quando perdemos o poder de decisão. Complicado demais.

Cheguei ao departamento. Peguei um café recém feito e fui direto para minha mesa. Ao me sentar verifiquei se havia novas mensagens no Whatsapp e sim, havia algumas. Minha mãe, dizendo que faria uma comida especial no jantar. A outra era de Jacke me informando sobre a dieta e também que ainda se encontrava excitada. Abafei minha risada com a mão livre, que fogo é esse? E a última, infelizmente não tão agradável. O sepultamento de Amanda Rosa. Minha vontade era de esmurrar a cara do demônio que a matou. Coube a mesa sofrer às consequências. Eu sei que isso não é bom. Clemente sempre me alertava quanto a isso. Nada de parcialidade. Um bom policial não toma partido. Você precisa fazer com que a lei se cumpra e só. Era verdade. Eu precisava me concentrar e enfiar a cara no trabalho.

*

Na hora do almoço lá estava eu conferindo as imagens de câmera de segurança do prédio onde Amanda Rosa morava. Era um lugar bem movimentado. Entregas de fast food o tempo inteiro. Entra e sai de moradores. Crianças no parquinho e... Rafael da Silva, talvez. Me ajeitei na cadeira. Ele desceu da moto. Retirou o capacete. Meu coração demonstrou estar em bom funcionamento ao ver pela primeira vez a carranca do assassino. Era ele. Tinha que ser ele. O cara era enorme, com pinta de lutador. Ele entrou no prédio. Descruzei e voltei a cruzar as pernas com minha respiração no volume máximo. Filho da mãe. Certo tempo depois ele saiu e já não aparentava estar tão calmo. Ela a matou. Subiu na motocicleta e se foi. Beleza, agora eu tenho um rosto. Eu tenho você, Rafael da Silva.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 21/09/2022
Código do texto: T7611200
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