EDGAR SOLENE | O caso Amanda Rosa | capítulo 6

Familiares. Conhecidos. Curiosos e a imprensa. Todos amontoados atrás dos muros do cemitério. Todos indignados. Todos numa só voz exigindo justiça. Eu estava lá envolto por esses sentimentos também, mais até do que todos ali. Meus olhos não paravam um minuto sequer. Eu escaneava aquela multidão em busca de um único rosto. Rafael da Silva. Assim que fui visto por jornalistas, imediatamente me deixei ser abordado por eles com seus microfones, celulares entre outros aparelhos. Respondi de forma automática todas as perguntas tentando ao máximo não perder o foco. O corpo da pobre Amanda Rosa jazia num caixão branco com detalhes em dourado. Eu não me aproximei, mas disseram que ela estava linda. É de doer o coração. Havia um sacerdote que não desgrudou hora alguma dos pais da vítima e a todo momento lançava palavras doces de conforto. O cortejo teve seu início. Claro que não me movi. Eu não estava ali para aquilo.

*

Permaneci no mesmo lugar observando cada ser que deixava o cemitério ainda aos lamentos pela vida de Amanda. Havia até quem trouxera faixas e pequenas placas com a foto e o nome da morta. O meu alvo não apareceu. Pela primeira vez em muito tempo Clemente havia errado? Havia dado um passo em direção a saída quando meus sentidos se aguçaram em relação a um cidadão que eu não tinha visto antes. Estatura baixa, porte de lutador de MMA, cabeça raspada, seu rosto ruborizado sinalizava o quanto sua revolta e tristeza vinham direto de suas vísceras. Pensei em aborda-lo, porém pensei melhor. O que Clemente faria se estivesse em meu lugar? Ele passou por mim gesticulando, segurando uma garrafa pela metade de água mineral conversando com uma mulher de meia idade que deduzi ser sua mãe. Lá fora eles ocuparam um carro grande de cor prata e se foram. Lógico que parti atrás.

*

Três quilômetros depois eles pararam em frente a uma academia não tão famosa, mas muito movimentada na época. Somente o rapaz desceu. Parei dois veículos atrás e aguardei. Relaxei no banco fazendo descer os meus ombros. Meu Deus, como eu estava estressado e fiquei ainda mais com a ligação repentina de Edna Marques, minha chefe.

- Solene falando.

- Pensei que me ligaria assim que saísse do sepultamento.

Caracas, que vacilo. Pensei fazendo uma careta.

- Peço desculpas. Tive que sair atrás de um suspeito. Estou na cola dele.

- Se for isso mesmo, tudo bem. Temos que encerrar logo esse caso.

Jura?

- Qualquer novidade preciso que me ligue imediatamente, entendeu, agente Solene?

- Copiado!

Eu sempre fui um cara que sabia administrar as coisas bem, independente se eu estava sob forte pressão ou não. Apesar da pouca idade e de não possuir tanta experiência na questão profissional, antes do caso Amanda Rosa, fui incumbido de outros que, a primeira vista espantara agentes com mais bagagens e tempo de casa. Graças a Deus consegui solucionar a todos. Assim que Edna encerrou a ligação, guardei o aparelho no bolso e desci. Anotei mentalmente o endereço e entrei.

Tudo de mais moderno que uma academia podia possuir, aquela tinha sobrando. Eu mal pisara no local e uma moça bonita em trajes esportivos que valorizava bastante seu shape me abordou.

- Olá! Vamos marcar uma avaliação? – ela tinha aparelhos nos dentes.

- Mais tarde. – respondi olhando ao redor. – na verdade estou a procura de alguém.

- Posso ajudar? – ela seguia rindo.

- Acho que sim. – dissimulei. – Rafael da Silva. Ele treina aqui?

A menina encantadora desfez o sorriso puxando da memória.

- O nome não me soa estranho, mas não estou associando a pessoa. Vou dar uma olhadinha nas fichas.

- Por favor.

Não demorou muito para ela voltar segurando uma ficha e o que era melhor, com foto.

- Sim, ele treina aqui, mas faz algum tempo que ele não aparece.

- Quanto tempo, mais ou menos? – segurei o papel gravando o endereço contido nele.

- Uma semana. Eu acho. – ela olhou para mim desconfiada. – Você é o que dele?

Precisei ser rápido.

- Treinamos juntos a muito tempo. Mas tudo bem.

Eu não tinha outra coisa em mente a não ser ir até a residência do suspeito e lhe dar voz de prisão. Ao deixar o local fiz exatamente o que meu instinto policial me ordenou fazer, “ver é melhor do que não ver”

*

No caminho para a casa de Rafael da Silva, pedi que fizessem uma busca um pouco mais cuidadosa no histórico do mesmo e o que descobrir foi um tanto quanto desanimador. O sujeito era lutador de jiu Jitsu e com um agravante; era bom no que fazia. Rico e possuía porte de arma. Seria complicado. Claro que eu não poderia agir sozinho nessa.

- Doutora Edna, estou seguindo para o endereço de Rafael da Silva. Solicito reforço.

- Mande-me o endereço, agente. Chegaremos em minutos.

Chegaremos?

Ótimo! A imponente Edna Marques estaria presente na festa. Parei meu carro a quinhentos metros da casa e aguardei.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 25/09/2022
Código do texto: T7613867
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