POEMAS MORTAIS | CAPÍTULO 4

Estar na sala de um chefe nunca será algo agradável. Estar na sala de um chefe como Lúcio Paixão é pior ainda. Paixão tem tudo aquilo que se espera de um capitão de polícia. Competência e liderança firme, Paixão nasceu para ser policial se é que podemos dizer assim. Quando atuava nas ruas de Vila Velha, o então sargento Lucio não agia dentro dos padrões como é exigido de um agente da lei. Houve épocas, que, para conseguir chegar ao seu objetivo, ele precisou fazer uso de métodos covardes e violentos. Porém funcionou e isso lhe renderá status e hoje ele se encontra ali, no cargo máximo da segurança de uma cidade.

— O que pensam fazer, colecionar fotos de meninas mortas?

— Estamos trabalhando, senhor. – defendeu-se Sabrina.

Hamilton mal olhava para o capitão. Sua raiva era contida o máximo possível.

— Me coloquem por dentro da investigação. A imprensa precisa de respostas.

Sabrina olhou para seu parceiro e o mesmo lhe fez um rápido gesto a pedindo que continuasse.

— Estamos diante de algo que nunca houve em Vila Velha. Um assassino em série.

Lúcio tirou os óculos escuros e enxugou sua careca negra.

— Como é que é?

Sabrina abriu a boca para prosseguir, mas Palhares, visivelmente possesso de ódio tomou a frente.

— Esse caso não será tão simples de resolver, Lúcio. O cara mata as meninas e escreve poemas com o próprio sangue delas e...

Melo retomou a palavra.

— Acredito eu que, ele não vai parar por aí até completa-lo.

Paixão entrelaçou os dedos e ficou em silêncio.

— Conhecemos o poema?

— Então, chefe. Esse seria o próximo passo. – Hamilton parecia querer arrancar sua própria barba fora.

Lúcio lançou um olhar tão aterrorizando para Palhares que Sabrina sentiu seu corpo vibrar com a má energia expelida ali.

— Estão liberados. – Lúcio voltou com os óculos escuros. – espero que dá próxima vez já tenhamos o seu “serial killer” na jaula. – fitou Sabrina.

*

Após o inferno na sala de Paixão, a dupla se prendeu ao que seria o ponto alto da investigação. Tomar conhecimento do poema. Mais uma vez Sabrina se auto escalou para às pesquisas na internet. Hamilton partiu para o IML a fim de obter novas informações.

— Não! Não houve mudança em seu modus operandi. Um corte no pescoço e isso. – apontou para o poema o legista.

— Tem certeza? Violência sexual por exemplo. – Palhares deu a volta na maca onde jazia o corpo da jovem.

— Você está precisando urgente de umas férias, Hamilton.

Férias. Quando foi que ele pode gozar de elas? Lógico que houve época em que ele curtira os merecidos trinta dias de descanso numa casa de praia, mas isso foi há muito tempo. Desde quando atingiu ao cargo de detetive, se Palhares conseguiu tirar uma semana de folga foi muito. Às vezes, ou quase sempre, ser bom no que faz tem lá suas desvantagens.

— Acho que dessa vez você está coberto de razão, Magalhães.

— Só dessa vez? – riu.

— Uma última coisa. Conhece o poema? – Hamilton enterrou às mãos nos bolsos da jaqueta.

— Hum! Deixe-me ver. – apertou os olhos para ler melhor. – bom, antes de você chegar eu estava justamente tentando lê-lo, mas não o entendi.

Palhares pegou o celular. Abriu a galeria de fotos e o mostrou o outro corpo.

— Isso estava escrito no primeiro corpo, lembra?

— Não estou afirmando, mas lembra muito poemas da morte.

— Que merda é essa?

— Uma coletânea muito antiga de poemas com esse tema.

— Conhece o autor? – era visível a excitação do investigador.

— Autores, no caso. Infelizmente há um número infinito de livros que caíram no esquecimento do público leitor e com essa coletânea não foi diferente.

— Será que consigo encontrá-lo em sebos?

— Não custa nada tentar, não é?

Enquanto Magalhães falava, Palhares ligava para Sabrina.

— Oi, Bina, pesquise por Poemas da morte, copiou?

— Copiado.

O aparelho voltou para o bolso. Hamilton agradeceu ao perito e saiu.

— Tire férias, detetive.

Tarde demais, Palhares já havia desaparecido.

*

Os pais conversam sentados a mesa que fica na copa de uma cozinha altamente planejada em aço inox e eis que Leo surge somente de cueca buscando algo na geladeira. O constrangimento é tão grande que não dá alternativa para o chefe da família a não ser repreendê-lo.

— Qual o seu problema, Leonardo?

— Nenhum. – pegou a jarra de suco. — por que?

— Isso é jeito de aparecer na cozinha e na frente da sua mãe, e se tivéssemos com visitas?

— Vai me dizer que a senhora nunca viu um homem só de cueca antes? – abriu os braços.

— Vê lá como fala, rapaz...

— Ah, coroa, se liga, vai. Olha só, vou sair e não tenho hora pra voltar. Certinho?

— Obrigado por avisar. – finalmente falou a mãe com as saliências do rosto vermelhas. — ultimamente nem isso você tem feito.

Coutinho voltou para o mundo que é o seu quarto, um lugar onde qualquer garoto aficionado por tecnologia se deleitaria. Na tela do notebook em cima da cama, a página de um famoso site pornô brilha sem modesta alguma. Sem ao menos fechar a porta, Leonardo clicou num vídeo denominado amador e mesmo de pé passou a assisti-lo. Ele ama os vídeos amadores. O som não está tão alto, porém, qualquer um que passe no corredor consegue ouvir a poluição sonora emitidas por esse tipo de filme. Do outro lado da cama, em cima do criado mudo está a faca. A mesma arma branca que já pôs fim a duas vidas jovens. Ela se encontra ali, bem ao lado do maço de cigarros. Num determinado ponto do vídeo Coutinho olhou para a janela e vislumbrou o dia de tempo abafado e sentiu algo tomando seu corpo por dentro, “um belo dia para matar”

*

Ser mulher não é para qualquer uma. Ser uma policial, muito menos. Sabrina Melo está esgotada tanto física como mentalmente falando. O lugar onde deveria ser seu porto seguro se transformou num ringue onde os adversários se odeiam pra valer. Ir para casa já não é tão legal.

Ela passou por Roberto que corrigia os trabalhos da faculdade sem cumprimentá-lo. Ele também não fez questão. Antes de sentar-se na cama os sapatos voaram e cada um caiu de uma forma.

— Ah, dane-se!

Sono e cansaço. Bela combinação. Sabrina gostaria muito de entrar naquele banheiro e tomar o melhor banho de sua vida, mas o peso do corpo não a ajudou, por isso ela decidiu deitar e fechar os olhos durante meia hora.

Melo foi acordada por Roberto massageando seu pé esquerdo.

— Você apagou. – ele disse.

— O que pensa que está fazendo? – puxou o pé.

— Ah, sério? Você até sorriu dormindo. Vamos, coloque os pés aqui. Na boa.

Não era má ideia, mas Sabrina sabia muito bem aonde essa massagem pararia.

— Agradeço, mas, vou tomar banho e comer alguma coisa.

— Pedi alguns calzones, acabou de chegar, tem o seu preferido.

Roberto estava jogando sujo e Sabrina não sabia como lidar com isso direito.

— Com licença. – se levantou.

Sem chance de defesa. Melo foi abordada pelo próprio marido que a beijou.

— Beto, por favor...

A investida do professor universitário é pesada e ao mesmo tempo envolvente. A situação de Sabrina piorou demais quando seu pescoço passou a ser alvo dos beijos.

— Me solta, cara.

Roberto manteve a resistência e não parou por aí. O par de seios avantajados são apalpados do jeito que ela sempre gostou. Tanto um como o outro não fazem a menor ideia de quando foi a última vez que fizeram amor. Há cinco meses, talvez. Isso justifica a pequena fraquejada da policial ao sentir Roberto tocar em seu ponto fraco.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 18/02/2023
Código do texto: T7722382
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