POEMAS MORTAIS | CAPÍTULO 8

O primeiro a entrar na sala como uma tornado levantando casas e carros foi Lúcio Paixão. Em seguida, Palhares e Amaral, que mais parecia um roedor amedrontado.

— Não adianta virem atrás de mim. A Melo está suspensa e por tempo indeterminado. – foi para trás de sua mesa.

— Como assim, Paixão? A Sabrina é uma excelente policial. – Hamilton puxou uma cadeira.

— Sem dúvida, porém não lhe da o direito de me destacar bem no meio do departamento, na frente do todos. Decisão tomada. Já podem ir.

— Ótimo, então, eu estou fora e o Amaral também.

O jovem investigador quase sofreu uma parada cardíaca.

— Mais que merda é essa, um complô contra mim? – agora Paixão estava berrando.

— Vamos, Amaral.

*

O suor escorreu da testa até os olhos obrigando Sabrina a descer da esteira e correr até a bica mais próxima. Logo agora que ela finalmente havia conseguido chegar os tão esperados quatro quilômetros. A ardência passou e mesmo com o som alto do rádio ela pode ouvir seu celular tocando.

— Oi, Palhares!

— Já chega de suspensão, junte-se aos bons.

Amaral esfrega insistentemente a ponta de sua camisa nas lentes dos óculos. Sabrina acompanha sem ao menos piscar às coordenadas que Hamilton escreve na lousa branca.

— Por enquanto é isso. – tampou a caneta piloto vermelha e a jogou em cima da mesa. — Melo, você ficará responsável por checar às informações que Amaral e eu obtivermos. Amaral, quero que apure as imagens das câmeras de segurança da ponte, faça isso ainda hoje. Estamos entendidos?

Positivo, disseram os presentes.

Amaral deixou a sala de reuniões. Hamilton juntou seu material, Sabrina fez o mesmo.

— Estarei em minha mesa. – Melo caminhava em direção a porta.

— Posso falar com você um minuto? – Hamilton sentiu a boca ficar seca.

— Claro.

— Como você está? Quero dizer, como vão as coisas?

O sorriso da agente foi capaz de denunciar em poucos segundos tudo o que ela sentia no momento.

— Vamos para um lugar mais apropriado.

*

Shopping de Vila Velha. A maior e melhor loja de roupas e artigos femininos se encontra relativamente cheia. No meio dessa aglomeração onde as conversas se fundem encontra-se Ariadna. Distraída, maravilhada e principalmente boquiaberta com os valores dos produtos. Nem se ela investisse três meses de todo o salário que ganha como auxiliar administrativa conseguiria comprar um par de tênis ali. Mas está valendo a pena o passeio, havia tempo que ela não tirava essas horas para espairecer. O único problema é que, desde quando saiu de casa ela tem sentido uma estranha sensação de perseguição e agora deixando a loja algo a fez olhar para dentro do estabelecimento. Nada. Ninguém que ela conheça.

Dona de longos cabelos negros, pernas perfeitas e um quadril largo, Ariadna Campos não precisa fazer tanta força para chamar atenção, basta por os pés fora de casa que os olhares se voltam para ela. E o melhor de toda essa história é que ela sabe disso e por isso faz questão de exibir sua beleza exótica. Ao passar por uma lanchonete para veganos seu apetite aumentou e nada mais justo e apropriado depois de um passeio ao shopping fazer uma boquinha.

Cinco minutos depois seu lanche estava pronto e a aguardava em cima da mesa. Ariadna teve a mesma sensação e um pouco mais intensa dessa vez. Como se alguém a olhasse bem de perto. Ela girou o pescoço lentamente em direção ao balcão. Seu apetite se esvaiu.

*

Deveria ser uma coisa fácil se declarar apaixonado por alguém. Para muitos pode até ser. Esse não é o caso de Hamilton Palhares. Infelizmente a quase meio século ele vem convivendo com essa barreira em sua existência. Ficar frente a frente com Sabrina Melo, sentindo de perto seu cheiro. Ouvindo sua voz num tom suave e principalmente contemplando sua beleza estonteante a centímetros de seus olhos, é algo que faz o velho coração do policial sangrar.

— Então não tem mais jeito? – falou adoçando o café.

— Não! – Melo fazia o mesmo que o colega. — Roberto e eu estávamos a um passo de nós agredir, digo, fisicamente. Então, graças a Deus, ele mesmo decidiu ir embora.

— Já colocaram a papelada pra correr? – provou a bebida.

— Sim. A partir de agora irei virar essa página da minha vida. Focarei mais no trabalho, na minha saúde e quem sabe mergulhar fundo nós estudos.

— Hum, sério, faculdade?

— Sério! Lembra quando conversamos sobre o meu desejo de chegar a chefia de polícia? Então, o curso de direito me aguarda.

Hamilton tentou disfarçar sua emoção.

— Nossa, estou orgulhoso de você, menina. É isso aí, bola pra frente.

O celular vibrou em seu bolso.

— Palhares.

— Bingo! – brincou Amaral. — acho que temos o nosso assassino poeta. – falou cantarolando.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 20/03/2023
Código do texto: T7744363
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