O xerife de Havana

- É o xerife Lawson?

Brian Lawson ergueu os olhos do relatório que estava lendo e encarou a jovem que acabara de entrar em seu escritório. Bronzeada, não mais de 25 anos de idade. O vestido largo e estampado que usava o fez incluí-la naquela categoria de desocupados que volta e meia ele mandava para a cadeia: hippies.

- Ei! Meu escritório é área restrita! Quem lhe deixou entrar aqui? - Protestou.

- Eu perguntei para o policial na recepção onde poderia encontrá-lo e ele me apontou a direção - defendeu-se a garota.

O idiota do Waters, avaliou imediatamente Lawson. Será que achou que a garota era uma professora ou membro do conselho da cidade? Não com aquelas roupas!

- Já que entrou, o que quer? - Inquiriu com irritação, sem fazer menção a convidar a recém-chegada a sentar-se.

A garota exibiu um cartaz de "procura-se" em preto e branco, provavelmente uma cópia xerox, com a foto de um beagle e um valor de recompensa abaixo: 50 dólares.

- Este cão, eu sei onde ele está.

Lawson franziu a testa.

- Se sabe onde o seu cão está, porque não vai buscar?

- Não é o meu cachorro, só quero o dinheiro da recompensa - admitiu a hippie. - Mas pra isso, vou precisar de ajuda.

O xerife imediatamente desfez a carranca e deu uma gargalhada.

- Você quer que eu te ajude a ganhar 50 pratas? - Indagou com ar de riso.

- Talvez não exatamente o senhor, - redarguiu ela - mas vi que tem muitos ajudantes. Não poderia ceder uns dois deles e uma viatura para que eu possa recuperar o cachorro?

- O cachorro desaparecido? - Lawson ainda estava rindo baixinho.

- Ele não desapareceu; foi roubado - afirmou convicta a hippie.

- Se você não é a dona, como sabe que foi roubado? - Questionou, braços cruzados.

- Por que há outros cães no mesmo lugar... e nenhum deles fugiu, todos foram roubados. Mas não posso ir lá, sozinha e desarmada. O senhor não é a lei neste lugar?

Lawson balançou afirmativamente a cabeça.

- Sim, eu sou a lei nesse lugar, senhorita. E, aliás, qual é o seu nome?

- Vana - respondeu a garota. E após uma breve hesitação, acrescentou:

- Vana Luna. Como o satélite natural deste planeta.

Lawson fez um aceno de cabeça.

- Está bem, Vana Luna. Você conseguiu chamar a minha atenção. Tem o endereço do local onde estariam os cães supostamente roubados?

- Não exatamente um endereço, mas posso lhe mostrar num mapa - admitiu ela.

O xerife abriu uma gaveta da escrivaninha e puxou um mapa rodoviário de Havana e adjacências. Abriu-o sobre a mesa.

- Mostre - ordenou.

Vana Luna inclinou-se sobre o mapa, pousou as mãos sobre ele e fechou os olhos. Ainda de olhos fechados, percorreu o papel com os dedos até parar com o indicador sobre um ponto nos limites da cidade, praticamente na região rural.

- Aqui - disse ela, abrindo os olhos e encarando o xerife nos olhos, de um modo que ele não conseguiu sustentar.

- Certo. Eu vou mandar uma viatura investigar - disse em voz baixa, só erguendo a cabeça ao perceber que Vana já não o estava mais encarando. - Mas você vai ficar aqui, aguardando pelo contato da patrulha.

E indicou uma cadeira à frente da escrivaninha, onde Vana Luna sentou-se como uma rainha após ter sua verdadeira identidade reconhecida.

- [22-10-2023]