A Morte Viaja no Coletivo

O jornalista Yen recebeu do chefe de redação a incumbência de preparar um artigo, em resposta aos e-mails dos leitores cobrando informações sobre o crime ocorrido num ônibus, no mês anterior.

Argumentavam que havia algo mal contado, no que não deixavam de ter razão, e talvez uma boa pesquisa trouxesse novidades. Yen, chamado pelos colegas do jornal de detetive, sempre era chamado para investigar notícias divulgadas pelo governo, sobre as quais havia rumores de corrupção. No caso em pauta, mesmo aparentemente sendo um crime passional, a importância devia-se ao interesse manifestado pelos leitores.

Ele iniciou a pesquisa pela leitura do inquérito policial, onde encontrou um fato que não veio à público: o nome do assassino era falso e com o mesmo ele havia sido enterrado. E mais, durante um certo tampo trabalhara nos Correios como carteiro, sem que alguém levantasse suspeita sobre sua identidade.

Com esta descoberta, um verdadeiro furo, depois de tudo ter sido esmiuçado pela imprensa e, supostamente, pela polícia, Yen procurou o delegado responsável. Um subordinado seu havia montado o dossiê, cuja revelação seria uma bomba. Negligência ou... algo mais? E quem seria na verdade o morto? Qual o segredo que levara para o túmulo?

Com a adrenalina a instigar seus passos, ele adentrou a sala do delegado com o dossiê na mão. Conseguiu uma fisionomia carregada e lhe foi ordenado que sentasse, e ouvisse muito bem! O policial estava deveras furioso por lhe terem dado acesso ao tal dossiê, mas tentou sair pela tangente: o responsável era um veterano, no seu último mês de trabalho após brilhante carreira e que sem dúvida quisera se livrar do inquérito, mandando arquivá-lo sem comunicar os superiores. Que se tivesse tomado conhecimento antes, blá, blá, blá...

Yen disse-lhe que sentia muito, mas precisava informar seu chefe, ao que o delegado garante-lhe que “deste cuidaria ele”. Que o assunto deveria permanecer em sigilo, pois a Polícia Federal continuava no caso, e se a notícia vazasse haveria prejuízo para as investigações.

Após obter garantia de exclusividade no momento da divulgação dos fatos, o jornalista-detetive voltou a campo, desta vez para entrevistar as pessoas já inquiridas, esperando que algo tivesse passado através do pente-fino movido pela imprensa em torno de familiares, colegas, vizinhos ou passageiros do ônibus.

Outra vez teve sorte: uma das testemunhas, a que estivera sentada perto da moça assassinada, resolveu abrir-se confessando que por medo, não revelara a conversa que tiveram pouco antes do ocorrido. A jovem havia lhe confiado que estava nervosa, referindo-se à presença de um bandido no interior do coletivo, da pior espécie, do tipo que engana todo mundo. Dito isto, ergueu os olhos, e vendo o rapaz, dirigiu-se para a roleta, local do coletivo onde teria ocorrido os tiros. Além desta informação, a entrevista não acrescentou nenhum fato novo.

Animado, Yen decidiu atrás do ex-marido da jovem. Encontrou-o numa sinuca, no morro da Polícia e após a narrar o que soube, o rapaz contou-lhe haver se afastado da ex-mulher pelo que descobriu e que o deixou p´ra lá de assustado. Ela passara a freqüentar uma turma perigosíssima, ligada ao seu trabalho numa agência de viagens, que vendia pacotes exclusivos para Foz do Iguaçu e Paraguai.

Dissera, ainda, que suas funções exigiam uma viagem por três dias em cada semana. Uma noite ele a seguiu, constatando que ela foi a um bairro na Zona Sul, onde entrou numa casa com a chave que tirou da bolsa. Ele ficou de tocaia até que às 2:00 horas, mais ou menos, quando viu estacionar uma Fiorino, com emblema dos Correios. O motorista e o mais um sujeito começaram a descarregar caixas, que levaram para dentro da tal casa.

Mais tarde, quando interpelou a mulher, ela disse-lhe para esquecer o que viu, e que em breve os dois iam estar numa boa, pois era ainda mais esperta que a turma toda, e ele, ela e mais um amigo iriam fugir em breve, levando uma bolada. Já tinha tudo arquitetado, passaportes falsos para os três e passagens para o México. Que a outra pessoa já havia dado um golpe e ninguém descobrira. Era coisa para breve. Ele não quizera acreditar, mas ela lhe mostrou tickets e passaportes.

E que quando ela “viajou” de novo, se pôs a vasculhar a casa, encontrando um das caixas embaixo de sua cama. Pouco depois, arrombaram a porta e dois sujeitos encapuzados o agrediram, exigindo que as entregasse. Falaram que ela não sabia com quem estava lidando e prometeram vingança.

Após o ocorrido, ele abandonou a casa e procurou amigos no morro onde foi encontrado, após pedir dispensa no emprego. Não tinha carteira mesmo, pois trabalhava por comissão como garçom. Soube pelos jornais do acontecido, e até aquele momento não havia arredado pé da vila onde estava homiziado.

Com as novas informações, Yen foi para casa e escreveu uma matéria que enviou ao seu chefe, pedindo destaque e manchete de primeira página. O Ministério Público precisava ser acionado, pois os indícios de contrabando, talvez drogas, eram níti

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Durante um bom tempo, os colegas perguntaram por Yen, tanto na redação como nas rodas de chopp, nas madrugadas após o fechamento do jornal. Deixaram, entretanto, de prestar atenção à notícia, cuja com matéria era uma batida em um morro, comentando o tiroteio que a Polícia travou com traficantes, do qual havia resultado duas mortes.

A foto que acompanhava a matéria mostrou que um deles apresentava feições nitidamente orientais. Diante das muitas perguntas, o chefe de Yen comunicou que este continuava investigando o caso por conta própria, no Paraguai ou Foz do Iguaçu e mais não sabia a respeito.

Marluiza
Enviado por Marluiza em 02/05/2008
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