Sereia em delírio

Confusa ela se atira do alto do penhasco.

"Suas idéias ainda cambaleantes atravessam o rio de lágrimas que jorrava há quatro noites, ela nem sabia mais o que era dormir, não sabia mais o que era comer ou respirar aliviada. Nem os remédios de tarja preta adiantavam, aquele nó só aumentava e em sua frente só muros, nenhuma porta.

Se lhe perguntassem o que era escrever uma crônica ou poema ela nem mais saberia responder, mergulhada na aventura de escrever seu primeiro romance se afundava nele, se perdia entre as suas rochas tão frias e suas noites tão solitárias.

Entre geleiras e o sol dos alpes se escondia a mulher corajosa, guerreira e ao mesmo tempo tão frágil e em conflito.

Há quatro meses mergulhada na existência de dois jovens à procura de si mesmos no vasto oceano da vida.

Tropeça no próprio pé agigantado pelas caminhadas nos corredores sombrios da mente fantasiosa, criando as armadilhas do amor e do sexo, entre gozos e construções de personalidades sádicas e ao mesmo tempo o sorriso sutil a se desenhar na face angustiada.

Quantos meses ainda pela frente, é a pergunta que se faz ao ver no espelho as olheiras amarelas, o rosto em cera, lábios brancos, e no negro do olhar só a sombra da mulher, a veia explodindo no surreal da ilusão que vem e passa como fogos que explodem e deixam no ar o cheiro da pólvora.

Onde as portas se escondem?

Sem saída o romance se funde entre fantasia e realidade, e sem poder pensar, confusa e alucinada se lança ao mar, a porta espumante que sua mente encontra.

Se torna sereia e zumbi, enfeitiçando homens, atormentando a vida das mulheres, assustando o despertar de moças anoréxicas e mentes prodigiosas.

Reflexo da noite em claro ou apenas uma ilusão de aprendiz !"