Solidão Que Mata

Em seu quarto escuro e sombrio, começa a pensar nos rumos que sua vida tem que tomar. Pensa no que deseja, no que sonha, no que tem que ser feito e naquilo que é obrigado a fazer.

Deitado em sua cama tarde da noite, não consegue adormecer e sonhar com dias melhores. Fica apenas lá, olhando os buracos no forro e ouvindo os pequenos passos dos camundongos que por lá passeiam.

“Eles sim são felizes.”, pensava ele,“Podem ir e vir quando querem, para onde querem, sem obedecer a ninguém.”

Quando criança, Paulo nunca teve voz ativa nas decisões que afetariam gravemente a sua vida. Bem como todos os pais do planeta, diziam a Paulo que ele ainda era muito novo para tomar essas decisões e que um dia os agradeceria. Esse dia está demorando muito para chegar. Todos esquecem que o mais afetado por essas decisões não era nenhum deles, e sim, Paulo – o que menos participava delas.

Com o passar dos anos, Paulo amadureceu e aprendeu como e quando seria a melhor hora para expressar suas idéias. Além de sempre ter um diferencial para com as outras pessoas que o cercavam, agora ele está prestes a conseguir o que deseja: decidir sozinho o seu próprio destino.

Nunca tivera essa preocupação e isso o estava deixando muito preocupado e desconfortável. As conseqüências de uma escolha errada iriam repercutir pelo resto de sua vida. Não poderia tomar uma decisão precipitada ou sem pensar em suas repercussões.

Começava a se lembrar agora de tudo o que passara até aquele dia: das brigas com sua família, com os desafetos na escola, sua vida particular que nunca foi das melhores... Não tinha boas lembranças de seu passado, apesar de não ter muitas más lembranças também. Eram apenas lembranças que estavam ali para ocupar espaço desconhecido dos cientistas, para preencher um vazio de coisas inúteis, somente para confirmar sua existência.

Lágrimas escorriam de seu rosto ao lembrar de todas as oportunidades de sorrir que perdera por medo de um dia chorar, quantas horas de felicidades desperdiçou com medo de sofrer uma desilusão. Agora já era tarde. O tempo nunca voltaria. E ele agora estaria realmente sozinho para o resto de sua vida... Que se dependesse dele não passaria desta noite.

As horas passavam vagarosas. Parecia que aquele pequena noite já perdurava por meses, que o sol jamais voltaria a brilhar no caminho de Paulo e que estava destinado a viver na escuridão da Dúvida e da Incerteza.

Agora o Silêncio faz companhia para seus pensamentos pesados. Sempre que pensava achar uma resposta para uma de suas dúvidas, sempre apareciam muitas outras que começavam a reanimar as antigas e então perdia completamente as esperanças de achar uma saída.

“O que será que eu posso fazer?”, Se perguntava cada vez mais sem conseguir responder. “Não vou ficar aqui parado sem fazer nada. Vou sair e tentar pensar melhor lá fora!”, disse ele pra si tomando seu casaco e partindo.

As ruas de sua pequena cidade estavam desertas. Parecia que todos tinham migrado para outros lugares e deixado suas casas com tudo dentro bem ali, ao alcance de todos. Isso fazia com que suas preocupações aumentassem, achando ser o único que tivesse esses problemas ou que fosse o único a na saber resolvê-los.

Desolado, caminha vagarosamente até o rio que cortava o centro da cidade e ficou a olhar as águas tortuosas que por ali passavam. Pôs-se a pensar se era aquilo mesmo que gostaria que estivesse acontecendo em sua vida, tentou por mais uma mísera vez pensar que o que seus algozes disfarçados de pais falaram ser verdade, mas foi tudo em vão. Estava decido que deviria tudo isso muda, não importava o que tivesse que fazer para que isso acontecesse.

Não restavam mais dúvidas. Sua decisão final estava tomada. A decisão mais importante que poderia tomar e que afetaria não só a sua vida, mas também a vida de muitas pessoas ao seu redor estava tomada. Não havia motivos para ser adiada mais uma vez essa decisão e nem ele queria que isso acontecesse. Estava com medo de não ter mais coragem de tomá-la se não fosse naquele momento.

Sentado às margens do rio, começou a lembrar de todo a sua vida, de toda a sua tragetória até aquele dia, de todo o seu sofrimento até aquele ponto, de tudo que teve que aturar até aquela noite. Noite esta que ficaria marcada para sempre. Seria o marco de sua liberdade tão sonhada.

Em seus últimos momentos, uma lágrima percorre seu rosto gelado pela noite.

Ele se joga.

Paulo finalmente está livre para fazer aquilo que quiser. Nada nem ninguém poderá impedir que seus sonhos se realizem.

O céu, já escuro, se enche de nuvens carregadas e uma chuva fraca, mas constante começa a cair sobre a cidade. Os céus entram em pranto por perder mais um homem, mas logo se reanimarão por saberem que ganharam mais um belo anjo.

Luiz Devitte
Enviado por Luiz Devitte em 06/10/2008
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1214658
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