JONAS MORFEUS

Jonas sonhava. Como todos sonham.

Claro, cada qual com seu sonho. E o de Jonas eram sempre aqueles ditos impossíveis. Desde muito cedo sonhava com um mundo justo, e não aquele que arruinara com seu pai. Ou o que fazia com que sua mãe lavasse trouxas e mais trouxas de roupas para ganhar míseros tustões.

Temeu a policia desde muito jovem, e também soube pela escola que não haveria chances de um dia ele ser o Dr.Jonas que sua velha vó tanto queria. Mas ele continuou sonhando. Fosse dormindo, fosse acordado, sempre imaginava um mundo melhor para ele e para os outros.

Foi já maior de idade que conheceu alguns amigos que estudavam na faculdade, e durante suas discussões políticas acaloradas, seu coração esperançosos acelerava, tomado pela emoção de que Eles poderiam mudar algo, haviam idéias. Mas idéias são como sonhos. E sonhos são como fumaça se esvaindo pela chaminé. Pelo menos foi isso que ele começou a pensar. No entanto não conseguia parar de sonhar. Ainda que, para onde olhasse, podia apenas enxergar as desgraças da vida. Ainda assim era um sonhador, e como todo sonhador, tinha sérias tendências ao otimismo (ou ingenuidade?).

O tempo passou. Jonas viu o mundo mudar. Foi injustiçado, viu o governo rir diante do povo. E chorou a cada notícia trágica dada no noticiário. E assim viveu.

Depois veio a morte. Mas antes disse que os filhos deveriam sonhar, e que de fato dias melhores poderiam vir. E em seguida seus olhos perderam o brilho. A alma se foi.

Jonas morreu. Como todos vão morrer. Mas morreu opaco, esquecido entre os becos sujos da vida. Mal sabia que seu dom era sonhar.