A viagem

A estrada, naquele início da manhã, estava totalmente deserta. A ausência de passageiros era inexplicável.

Era um dia de semana normal. Cadê os estudantes que iam para a escola no centro de Dois Caminhos? E os trabalhadores então? Cadê todo mundo? O ônibus tinha saído de Floresta com dois passageiros que desceram logo no início da viagem e depois mais ninguém...

Eram esses os pensamentos de Jorge, o motorista de ônibus da linha Floresta-Dois Caminhos. Quase que adormeceu no volante diante da monotonia que a viagem estava se transformando. Venceu os quase cem quilômetros num misto de curiosidade e uma ponta de desespero. Não via carro, nem gente. Tudo deserto. As casas, as ruas, tudo... Como se o mundo estivesse desaparecido.

Entrou na Rodoviária certo de obter algumas respostas. Mas qual o quê. Nem lá havia viva alma para contar o que havia acontecido. Olhou no relógio da Rodoviária. Logo percebeu que ele havia parado. 6:15... O seu marcava 8:15... 6:15 na Rodoviária? Nessa hora ele estava na estrada. Ele e seus dois passageiros que desceram no meio do caminho. O que estava acontecendo? O balcão da empresa de ônibus vazio. As plataformas idem. O bar. A revistaria. A loja de CDs piratas. Tudo vazio. Tristemente vazio. Inclusive de passageiros.

Independente desse mistério, Jorge tinha que cumprir o horário. Deu uma volta pela aquela cidade fantasma fazendo hora para encostar na plataforma 2 e recolher os passageiros que ele tinha quase certeza que não apareceriam.

Cumpriu o ritual e às 10 horas deu partida para a viagem de volta a Floresta. Repetiu-se o cenário... Ninguém na rua, ninguém na estrada..

Jorge se sentiu dono do mundo. Acelerou mais do que podia o ônibus e nem deu bola para o posto policial na estrada. Mas o policial rodoviário não viu, nem podia ver o quase bólido passar pelo posto, preocupado que estava com o acidente do ônibus da linha Floresta-Dois Caminhos que vitimara apenas o motorista. Os dois únicos passageiros saíram ilesos apesar da queda no precipício