A Caverna

Ao passar por aquela porta, me deparei com um grande obstáculo, um desafio interno e silencioso dava sinais. Uma sombra que eu insistia negar, renascia e turvava minha visão. Mais uma vez,eu estava cega para as novas possibilidades e para o mar de luz que me habitava. Encarei o desafio e embarquei na viagem, cujo destino desconhecia. Quando percebi, estava dentro de uma caverna escura, fria e úmida. O silêncio era absoluto. Eu sentia necessidade de me movimentar, sair e divisar novos horizontes, mas algo me aprisionava.

 
O que me prende à escuridão? Quero me libertar!
 
Respirei profundamente, enquanto as perguntas giravam em minha mente, e deixei o ar percorrer cada célula do meu corpo. Aos poucos,  fui preenchida por um estado de profunda calma. De repente, o silêncio da caverna foi rompido por um coro de vozes confusas e ao longe pude reconhecer a minha própria a clamar:
 
- Saia da escuridão! Vista-se de Luz! Você tem asas e pode voar. Liberte-se!
 
Fiz daquelas palavras, meu mote. Concentrei -me, virei para a entrada da caverna e lá longe avistei um pequeno ponto de luz. Um calor suave tomou conta do meu corpo, os raios se expandiram e pude sentir minhas asas abrirem felizes e se agitarem. Como num passe de mágica voei até a abertura da caverna, tanta luminosidade cegou minha visão e não conseguia definir as formas. Fui abraçada pela luz, de brilho intenso, e me senti absorvida por ela.
 
 Sem medo, me entreguei à sensação de profunda paz e plenitude, que apagava todas as incertezas da vida para brilhar realização. Minha visão foi se acostumando à luz e pude notar a presença de um sábio ancião que se aproximava. Trajando um manto cor de ouro, cujo brilho contrastava com seus olhos azuis, traçou no ar uma mensagem : “ É nos momentos mais sombrios, que surge a luz...” -  Então, sob seus pés, nasceu uma linda flor de lótus, como símbolo de pureza e  perfeição que o envolveu com suas pétalas, fazendo-o desaparecer.
 
No ar, ficou uma névoa de cheiro doce, que logo se transformou num lindo pássaro. Seu canto assemelhava-se ao som da harpa. Enquanto a ave cantava, meu coração vibrava e transbordava de alegria, tornando-se cada vez mais luminoso e cheio de vida. Meus pés já não tocavam mais o chão. Minhas imensas asas ruflavam e me faziam voar pelo espaço. Subindo em espirais, fui ter entre as estrelas que rutilavam na imensidão silenciosa do universo, onde pude experimentar a melhor parte de mim.
 
Desde então, sou a luz que superou a própria sombra...