Depressão

Saí de casa.Tudo se encontrava difuso:uma paisagem verde e rosa claro se desenhava a minha frente.Aos poucos,a medida que ousei começar a andar,meus passos,ao pisarem no chão,faziam-no estremecer,como se eu estivesse a pisar em algum tipo de água-tinta. Avistei finalmente árvores, e um rio.Do outro lado dele uma menina tristonha recolhia algo e o colocava em sua cesta.Mas não era apenas um algo,eram vários.Na verdade,várias.Gotas cristalinas brilhavam de dentro de sua cesta de vime e em suas mãos.Perguntei,tentando gritar:-Menina,o que você está recolhendo::

Ela me olhou tristonha, minha voz saíra em ecos e chegara finalmente até ela,mas em força de mil vezes.Seus olhos eram tão tristes que me senti a pior das criaturas por importuná-la.Mas não eram apenas de tristeza,eram também de pena.A pobre garota,em suas vestes desgastadas,com seus cabelos escuros desfiados,suas olheiras saltadas e sua magreza visível,estava a ter pena de mim.Finalmente,depois de algum tempo,notei um borrão se abrindo em seu rosto:ela iria falar algo.

-São suas lágrimas,senhor.-Senti meu peito abrir,algo forte me puxou pelo coração,caí para trás levado por uma dor interminável. Acordei no escuro,acordei só,e eu sabia,eu sabia que era ela,ela havia voltado.Minha cama estava desarrumada ,deixei-a assim,corri atrás do remédio,onde estaria o maldito remédio::!As paredes foram se fechando,se fundindo e logo eram todas uma só.Não havia portas,não havia janelas,o piso iria me engolir,eu deixaria de existir.Me segurei em algo,mas estava fraco.”Não vai me vencer, não vai me vencer.”Á frente o criado-mudo estava aberto,havia nele uma gaveta,poderia estar lá!Tentei em passos pesados chegar até ele,caí,fiquei a olhar o teto,que começou a girar,girar,ninguém viria me salvar...

Como um presente tudo se embrulhou e lá estava eu,sozinho novamente,no escuro.Tentei respirar mas estava cada vez mais difícil,agora haviam mil olhos me olhando furiosamente,olhos de alguéns que queriam me matar. “Socorro!Socorro!”tentei gritar,mas não saía.

“São só lágrimas,só lágrimas,senhor”-a menina tristonha agora reaparecia no cenário escuro,mas algo nela começara a se iluminar:seu vestido estava mais claro e novo,seus olhos mais vívidos,e apresentava agora um sorriso radiante.Em suas mãos,uma lágrima brilhava constante e ardentemente,quase uma estrela.Eu a peguei.

“Tome-a”me disse.Ao colocá-la na boca,senti um algo sólido e líquido também,dois elementos em um só.

Acordei.O rosto de Helen sorria para mim,belo e carinhoso como sempre.Notei o copo em suas mãos,havia me dado o comprimido.

-Dessa vez foi por pouco,querido.-Eu a abracei, e me senti salvo outra vez. A depressão havia ido embora, e eu faria o possível para não encontrá-la outra vez...

Adriana Monteiro
Enviado por Adriana Monteiro em 28/03/2009
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