O caminho da luz

Eles a arrastaram pela estreita estrada de terra. Com as mãos amarradas às costas, ela foi levada pela multidão que gritava. Metida em um longo vestido negro rasgado, a mulher caminhou cabisbaixa, sua face encoberta pelos cabelos compridos que caíam como cortinas lúgubres ocultando algo tenebroso, onde todos cuspiam com o mais infinito desprezo. Os gritos foram aumentando à medida que se aproximavam de uma enorme estaca de madeira, cravada sobre uma armação de palha e lenha, que logo foram banhadas com óleo.

“Sacrifique-me pelos meus pecados” – eles ouviram surpresos, enquanto a amarravam.

E logo todos tornaram a gritar, puxando-a com força pelos cabelos, amarrando ferozmente as cordas em sua carne. Lutando por um pedaço frágil de seu corpo para socar.

“Sacrifique-me pelos meus pecados” – seu tom de voz, antes tranqüilo, agora ecoava alteado e o silêncio reinou.

Eles se afastaram, com uma mistura de medo e curiosidade, enquanto ela levantava o rosto, revelando uma mínima parte de sua face numa palidez mórbida e soturna. Então, deu início a uma melodia penetrante que congelou a espinha dos presentes.

“Por minhas crenças. Cuspa em mim.”

Sozinha, ela própria subiu graciosamente no pequeno altar, segurando o vestido com as mãos amarradas.

“Morra... comigo

Quando eu já tiver ido

A morte virá para você”

Um pequeno sorriso encrespou seus lábios e ela olhou cada um deles nos olhos, como se pudesse enxergar suas almas.

“A morte virá...”

Dois homens encapuzados se aproximaram, segurando tochas acesas.

“Sacrifique-me pelos meus...”

As chamas foram grandes. De lamber o queixo dela.

As palavras que ela disse - por aquelas palavras ela morreria.

A multidão fazia um círculo ao redor dela, louvando o Deus de misericórdia deles.

Os gritos dela foram ficando fracos.

"Bruxa! Bruxa!" - A multidão estava gritando.

As crianças, em um momento, tão amáveis, agora suas pequenas mãos estavam cheias de pedras.

Eles a assistiram sangrando.

A noite escura vinha rastejando.

Ela era mesmo da estirpe do demônio?

Eles temiam seus pensamentos - deixando o pai julgá-los.

Andando no caminho da luz e guiando todos os fracos que encontrassem.

A multidão fazia um círculo ao redor dela, louvando o Deus de misericórdia deles.

Os gritos dela foram ficando fracos.

"Bruxa! Bruxa!" - A multidão estava gritando. – “Cacem os profanos e os coloquem na fogueira.”

“Me queimem no fogo”

O silêncio reinou.

Mais uma vez todos se afastaram.

A canção do demônio ecoou pelo vento.

“Me chamem de mentirosa

Gritem na minha cara

Chorem por mim”

As Mulheres gritaram apavoradas.

Os Homens sentiram o bafo quente dele.

As Crianças choraram de dor.

“Depois que eu me for

A morte virá para você

A morte virá...”

A maldita bruxa dançava nas chamas. Seu vestido dominado pelas labaredas do inferno. Seus olhos fixos em cada um deles e o mal estampado em seu rosto, segundos antes de sua queda final.

[A canção que a bruxa canta é a música "The Shining Path" da banda Tristania, a qual o conto se baseia.]

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 16/04/2009
Reeditado em 16/04/2009
Código do texto: T1541660
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.