CATIVO DO AMOR

Disseram-me certa vez que para sentir o amor ...não aquele amor barato que compra-se com algumas caixas de chocolate e um te amo tão desajustado que a melodia da expressão seria capaz de levar um crítico musical à loucura e se por alguma razão o termo continuasse a se repetir em sua mente,desejaria antes o suicídio;também não é aquele tipo de amor exaustivo do qual encontra-se aos montes encalhados nas livrarias,aquela coisa deplorável da qual fantasiaram o sentimento,bombardeando-o com sensações meramente ilustrativas,denotando-lhe apenas um sentido figurado,retirando-lhe a espontaneidade e limitando-o a nada mais do que gestos entrecortados e forçosos,a palavras rudemente ornamentadas.

Para sentir o amor é necessário conhecer a sensação de ter uma fria lâmina entranhando-se tão profundamente em sua carne,levando-o ao ponto de não ser capaz de responder: - O que faz parte de seu corpo e o que não lhe pertence? É preciso conhecer, ter vivenciado a sensação para ser capaz de distinguir com total desconfiança de seu senso o que é realidade e o que é gerenciado por sua depravação,afogar-se tão intensamente no antro lúdico de uma mente confusa e abstrata de percepção,que o fará após tudo acreditar que sem este mundo idealizado não há mais sua vida e sim apenas um nome inútil e alguns números relevantes à nossa existência em sociedade,a inquietação começa a provocar-lhe e a jogar com sua inteligência até que você descubra que é apenas um refém sem nenhum valor em sua própria criação.

Num momento de tranqüilidade relaxar e sentir os raios de sol ardente resplandecer sob sua face,fechar os olhos e ser capaz de vivenciar a liberdade,e então como presente,perceber, sentir seu peito sendo fulminado,perfurado por um desejo de vingança veemente,notar seu organismo funcionando de modo descompassado,no olfato o aroma inebriante do enxofre,os pulmões sufocando-se por causa do excesso de carbono,a consciência a vacilar,conflitante com a carência de oxigênio,o ar a cada segundo mais denso,o paladar ganhando texturas novas, desenvolvendo um gosto ácido e levemente adocicado,o sangue vertendo ao ponto de tingir o chão de escarlate,a visão ficando opaca,perdendo a objetividade e a nitidez,seu cérebro trabalhando em ritmo alucinado na tentativa de evitar o colapso,as memórias amontoando-se ante seu córtex e transmitindo-se a seus nervos ópticos a uma velocidade convulsionante ,o pensamento incoerente e inconcormitante,misturando-se a lembranças que se apagarão,após tudo somente a sensação de que foi agraciado com duas dádivas distintas e amaldiçoadas: a primeira; com uma cicatriz que aos poucos destrona-lhe a vaidade e encarrega-se de levá-lo às profundezas de sua alma ,descortinando toda a melancolia e desespero de seu coração,emocionando-o a tal ponto de deixá-lo grato pelo que lhe ocorreu. A segunda ;o fato de que seu corpo nunca irá se recuperar por completo,limitando-o ,como uma defesa natural ante ao sofrimento,no intuito apenas de preservar-se de você mesmo e de seu instinto momentâneo de auto depredação,fazendo desta maneira que por mais que seja tentado torne-se impossível transpor o limite imposto por sua fragilidade.

Definitivamente o amor é a superação dos receios,é um mergulho conformado no Estige é a ascendência do Barathrum,é deixar-se corromper para arriscar a vitória,mesmo possuindo a certeza de que só lhe restará a perda,é a irresponsabilidade em sua mais plena manifestação,são as ilusões que incendeiam nossas vontades e que se nutrem de nossas aspirações,ganhando assim um poder de vislumbramento tão surpreendente que se torna inseparável a realidade da imaginação e na medida que não somos mais controlados pelo encanto e podemos distinguir as coisas com perfeição e lutar para erradicá-las,acabamos por destruir algo muito além de nossos sonhos,desejos ou fantasias,destruímos os alicerces de nossa própria existência,levando quem estar conosco à ruína.

O amor nos sublima a um patamar de elevação indescritível que assimila-se ao efeito entorpecente de algumas drogas,porém estas limitam-se apenas a alguns momentos tão breves que parecem não ter existido,contudo o amor também é o melhor remédio para todas as enfermidades que possa existir,principalmente as do coração,isto deve-se talvez por causa de seu efeito sedativo ou por sua nocividade quando mau cultivado,o amor é o aniquilamento de algumas virtudes e a profusão de diversas falhas... é um ballet,um baile de sentimentos antagônicos que enfrentam-se face a face para assumir o comando,uma disputa aonde os perdedores são reprimidos,até que chegue o momento da discórdia,da revanche,o renascimento daqueles que outrora foram superados,é uma dor lancinantemente inóspita,entretanto e entre tantas agradável e reconfortadoramente destrutiva,é a insurreição do nada gritando através de ecos agudos,resultando no tudo.

Quando estas emoções lhe dominarem ao ponto de você não saber se você é real ou faz parte de um roteiro de ficção elaborado por um romancista alcoólatra que sequer saber qual é o verdadeiro significado do amor,você estará amando sem que lhe importe o tempo,as diferenças,libertando-se desta maneira do cativeiro que torna-se acreditar amar.

Francês Depardieu
Enviado por Francês Depardieu em 10/07/2009
Reeditado em 31/01/2010
Código do texto: T1692339
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