A FÊNIX

Depois da terrível derrota numa noite nublada, a fênix morreu.

Sim, a grande fênix mitológica. A derrota não veio com o limite de sua existência física. O tempo não existe para essas aves douradas. Foi em sua batalha milenar que levou ao fim o reio do sol.

As penas já não tinham o mesmo tom dourado cintilante de antes. Um olho furado, um dos pés encolhidos e escuros, já com sua carne e ossos fundidos pelas chamas adversárias. Já caída e sem forças para bater suas majestosas asas, se arrastou durante dias até que finalmente construíra sua pira de canela, sálvia e mirra. A filha mais bela do astro-rei resumia-se a uma ave ferida em uma pira acesa pelas vontades do seu pai.

Lentamente as chamas a consumiram, sua imagem transformou-se em um monte de cinzas. Não se ouviu choro, berro ou qualquer coisa parecida à quilômetros.

Sozinha, sempre sozinha a grande ave.

Dizem que o sol não nasceu durante três longos e escuros dias. Triste com a falta da bela aurora, ninguém mais viveu em paz. O horror e a vileza se escondem entre as sombras. Estão justamente onde está a ausência.

Um filete dourado no céu negro. Pouco a pouco o teto abobadado da humanidade se tornava salmão, as estrelas desapareciam junto da melancólica lua. A casca rachou, e junto do fulgor imperial do sol, havia esperança do homem, que imponentemente erguia-se no céu como se dizendo “venha a mim, meu filho”. E a cada vez que o sol eleva-se, mais trincados fazia-se na casca.

Mal havia o ovo se quebrado e suas asas douradas já refletiam o mundo todo. Asas longas, a grande rapina, filha do sol. Talvez a nossa esperança.

Aquela que sempre irá morrer somente para poder voltar.