O SONHO DE JUVENILDO

Depois de discutir com sua mulher à noite; certo dia um homem de cabelos grisalhos, roupas de duas décadas anteriores a que vive, carregando sua gaita na mão, estava passando em frente à Praça de Gaitolândia, cidade do interior de violonistas em fronteira com Bailão do Rock. Na sua caminhada, o senhor de cabelos grisalhos, encontrou uma jovem moça. Jovem mesmo aos olhos dele, que via o tempo passar, mas não mudava em nada, nota disso eram suas roupas inadequadas ao ano de 2008. Logo, a moça cujo nome era Guitarmina se aproximou dessa figura e perguntou:

- Cómo te llamas?

Assustado, o homem pensou: Ora, que cidade é esta? Agora a pouco encontrei um menino com um gorro na cabeça que me disse: Vos mercê seja bem vindo tchê. Onde já se viu...

E mesmo cheio de interrogações respondeu:

- Me chamo Juvenildo dos Santos, venho do litoral da cidade de Batera. E a senhorita... Que língua enrolada é essa?

O estranho é que ele nem notou que compreendera a pergunta dela...

- Língua nenhuma, é que nunca tinha visto pessoa vestida como você. Achei que fosse turista.

- Ah... Sou não, vim em busca de trabalho pois onde eu vivia a vida não me via.

Surpreendida... Guitarmina indagou novamente:

- O senhor é cawboy?

- Cruz credo!!! Medo de boi até que eu não tenho, mas cê já viu um touro bravo?

A moça sorriu, e convidou-o para ir à sua morada... Ao se aproximarem da casa, lá estava Pedro Alvarez, o tal menino do gorro. Assim estavam reunidos: Um senhor do litoral, a moça do interior e um garoto do sul que pensava que iria descobrir um país ainda não descoberto, contudo os três ficaram conversando a manhã inteira.

Ao chegar o entardecer, Juvenildo tirou sua gaita do bolso, a soprou em um tom desafinado arrancando gargalhadas do menino, enquanto Guitarmina se emocionava com o som desentoado que fazia lembrar os berrantes da sua terra, que quando tocados faziam reunir as manadas de gado.

Em seguida, Pedro disse olhando para os cabelos grisalhos a sua frente: Sorte sua que no meu país, o sorriso desenfreado não será entendido como sarcasmo.

O homem, confuso e surpreso com o vocabulário do jovem garoto, pensou estar diante de um mine rei. Do contrário, o que explicaria aquele gorro verde musgo na cabeça do menino. Dos Santos chegou até a pensar que Pedro era um duende encantado. Por isso se prontificou a dar mais atenção a ele, esquecendo momentaneamente da mulher que chorava pelos cantos.

- E então menino, onde é esse seu país?

- Sei não, mas eu ainda vou descobrir, quer vir comigo?

- Ir para onde?

- Para um mundo desconhecido.

- Se é desconhecido, como vai chegar lá?

- Sei não, mas ainda vou descobrir.

E mesmo parecendo absurdo Juvenildo topou o convite de Pedro Alvarez e logo se aproximou da senhora que estava em prantos, a tocou pela mão e lhe chamou para ir junto à viagem que fariam pelo novo mundo. Então, ao ser convidada Guitarmina respondeu:

De jeito nenhum, veja bem... Por que eu iria para longe depois de tanto imaginar o meu cawboy chegando na praça de encontro, com suas roupas típicas, cabelos cor da experiência, numa cidade de nome peculiar, com um berrante peculiar e uma atenção única ao meu garoto; por que eu deveria ir?

Depois de ouvir a explicação da senhorita, Juvenildo dos Santos virou-se para o canto e coincidentemente o canto do galo o despertou. Confuso, abriu os olhos, viu que não tinha saído do lugar, beijou sua esposa na testa, levantou-se, foi acordar seu filho para ir à escola, preparou o café, pegou o buzina de chifre na cozinha, e ao som que emitia, reparou que mais uma vez tinha sonhado. E como muitos dos sonhos que tivera, nada mais eram que um sonho refletindo sua vida.