... Continuação dos capítulos anteriores postados aqui no Recanto.
 
A lenda de Hiphitusi


26. Sozinhos
 

-- Será que vamos morrer aqui?
A pergunta de Vanuzia se repetia na mente de Roi, que pela centésima vez tentava encontrar uma maneira de acionar os botões dos cantos superiores, apesar dela lhe dizer sempre que não adiantaria, pois nem mesmo os botões de baixo acendiam mais, estava claro como a água que o mecanismo já cumprira o seu papel, agora era esperar...
-- Esperar o que, meu amor! Sempre pensei em morrer junto a alguém que eu amo, mas não foi dessa forma que eu sonhei. Imaginei-me velhinho sentado contigo numa varanda com um pasto verde a cercar nossa casa, não isso! Isso eu não aceito! Não vou desistir...
No fim depois de horas o cansaço e o pouco oxigênio dos cilindros o convenceu que desistir não era bem uma opção.
Sentou-se ao lado dela que o olhava com um rosto incrivelmente belo e o mais estranho: feliz!
-- No que está pensando?
-- Estou aqui vendo você há horas se debatendo e lutando contra um inimigo invencível, tudo para nos salvar. Essa é a coisa mais linda que alguém poderia fazer por mim. Eu ti amo!
Se beijaram e ficaram mais um tempo deixando o silêncio os envolver.
-- O que você acha que vai acontecer?
Ela virou o rosto, tocando seu nariz no dele, de tão próximos que estavam.
-- Você acredita em Deus?
-- Sim, acredito! Mas não creio que quem tem alguma chance de nos ajudar acredite também!
-- Você está falando de Kedaf?
-- Dele mesmo! Eu sinto que nossas vidas estão nas mãos dele...
Ela agarrou as mãos de Roi e as beijou de forma carinhosa.
-- Não vou duvidar da sua sensibilidade! Desde que lhe conheci ela ainda não falhou. Mas me diga, porque acha que o nosso amigo príncipe seja um ateu?
-- Ele sofreu muito durante a vida, para chegar onde chegou! Posso lhe dizer que ele nem sempre esteve num caminho tão correto. Creio que Kedaf acredite somente nele mesmo, é o máximo de crença que posso enxergar nele!
-- Então só cabe a nós mesmos!
Ele a olhou intrigado.
-- Quero dizer, só cabe a nós mesmos torcer para que ele passe a acreditar ou que de alguma forma seja despertado pelo Criador para esse caminho e urgentemente, não temos muito tempo.
Roi baixou os olhos e observou o ponteiro de seu cilindro, apontando para menos de um quarto. Sabia que economizaria a partir daquele momento todo o ar que pudesse e cederia de boa vontade a sua vida para que ela não sofresse.
Se levantou e caminhou até a parede que se bloqueava agora a saída e ficou por algum tempo em silêncio, meditando. Depois de algum tempo voltou a sentar ao lado dela.
-- Que lógica pode haver nisso! As chaves que abririam nossa passagem seriam impossíveis de estar aqui conosco, pois três delas não haviam como ser resgatadas inteiras. Que ser cruel poderia imaginar uma forma de armadilha que não tivesse uma maneira de ser superada?
-- A não ser que tenha!
-- Isso é impossível meu amor!
-- Pelo que vimos até aqui, provavelmente nada seja impossível! Pode ser que as outras partes da pedra Hiphitusi, cópias, não sei, podem estar no local para onde Kedaf foi. É uma alternativa!
Ele se calou, de certa forma ela estava coberta de razão, mas havia um porém. Não tinha idéia de onde levava a passagem que Kedaf tomara, nem se ele conseguira chegar a algum lugar vivo. E para ser sincero – pensou – naquele momento não queria nem saber.
Depois de se lembrar que o egoísmo não lhe levaria a nada, fez uma prece particular para que Kedaf estivesse bem, onde quer que fosse, e que uma luz divina tocasse o coração do falso príncipe e resgatasse lá de dentro alguma coisa que se perdera no tempo, numa época em que talvez ele ainda acreditasse num tipo de amor.
Sem ele saber, a exploradora estava pedindo exatamente a mesma coisa numa oração.
 
 
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27. Entre o início e o fim

 
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JGCosta
Enviado por JGCosta em 27/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
Código do texto: T2053997
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