... Continuação dos capítulos anteriores postados aqui no Recanto.

A lenda de Hiphitusi


28. Salni

 
-- Quem é você?
A pergunta de Kedaf ecoou pelo salão e em poucos segundos desapareceu. A resposta demorou mais tempo que ele achava que necessitaria, caso a resposta fosse tão simples. E quando veio, foi da mesma forma enigmática de antes e dentro de sua mente.
Eu sou o que veio antes...
E depois de mais um longo tempo a voz continuou.
... mas tudo que precisara saber...
... vira com a sua transformação!
-- Seja quem você for, me parece cansado!
Você está certo...
-- Então você depende de mim!
... mas posso aguardar por outros milênios...
... se isso for necessário!
O falso príncipe retornou até o centro da plataforma, pois sabia que era ali que deveria ficar.
-- Estou pronto! – disse ele estendendo os braços para o alto.
A mesma luz que o conduzira até ali retornou num piscar de olhos e o envolveu, somente o levantando cerca de um metro do chão. Ela começou a elevar a sua intensidade chegando ao ponto de cegar qualquer um que olhasse para ela.
Kedaf sentiu toda aquela luz em forma de força penetrando por seus poros, começando lentamente a percorrer por suas veias, até chegar até todos os seus órgãos vitais, num espaço de tempo que ele não soube precisar. Cada vez que essa força atingia cada uma das partes mais importantes do seu corpo, ele sentia uma transformação ocorrendo dentro dele, como se estivesse novamente sendo gerado, pedaço por pedaço.
Por todo o processo conseguiu ficar lúcido, mas quando a mudança começou a ocorrer no cérebro, depois de ter passado pelo restante do seu organismo, rapidamente adormeceu ou foi colocado num estado de transe, não soube dizer, somente dormiu por horas e horas.
E durante essas horas a voz falou com ele, de uma forma muito mais límpida e forte, não mais uma voz de um ser fraco e esgotado, agora ele podia sentir a energia que existia nela, pois ele também estava se tornando parte de toda aquela força. De tudo que a voz falou, o que ficou marcado em suas mente foram suas últimas palavras.

Eu sou Salni, aquele que controla o tempo, e esperei eternidades para receber um substituto. Sou conhecido por muitos outros nomes, nas mais diversas linguagens e períodos diferentes. Assim que despertar, você deixará de ser quem numa época foi, será adicionada à sua memória tudo que eu vi, senti, fiz e não fiz, durante toda a minha existência nesse plano. Eu não deixarei de existir totalmente, retornarei para o meu eu para completar minha jornada como prêmio pelo meu desempenho, por ter cumprido o meu dever, somente o que eu sou nesse instante será somado ao que você é, então seremos um só, como um dia eu também passei a ser. Quando eu iniciei o meu trabalho, uma nova Era se iniciou também comigo, essa será a única diferença entre nós, você não começará do início e sim do meio, para provavelmente nunca chegar a um fim. Isso tudo significa que a partir de agora você será chamado também de Salni, e de muitos outros nomes, terá que usar de toda a sabedoria que herdou para tomar as decisões mais acertadas, mas também poderá mudar a sua essência conforme queira, mas de uma coisa jamais poderá se esquecer: tudo que você fizer, cada pequena ação, irá se refletir no Universo, de uma forma boa ou catastrófica, portanto seja sábio e faça do seu trabalho a mais rica recordação que um dia um outro ser poderá herdar, ou não, tudo vai depender sempre de você, a partir de agora...

A luz começou a diminuir de intensidade e delicadamente o novo Salni tocou o chão, ainda permanecendo com os olhos fechados, absorvendo rapidamente todo o restante do conhecimento que necessitava. Ficou por mais uma hora assim, a respiração suave, conectado a um novo mundo que se abria para ele.
Tudo que se recordava de Kedaf não fora perdido, como lhe fora dito antes, mas era uma parcela muito insignificante em relação a toda imensidão de eras que possuía em sua mente nesse momento. Mesmo assim fez questão de perder alguns minutos preciosos empenhado em ver pela última vez o ser que fora antes da transformação.
Depois dessa rápida meditação, que só lhe fez bem, sabia exatamente o que tinha que fazer. E numa fração de segundos somente sua sombra restava ali, trocando lentamente de lugar com a luz que a envolvia.
 
 
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29. A esperança dourada

 
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JGCosta
Enviado por JGCosta em 29/01/2010
Reeditado em 31/01/2010
Código do texto: T2057458
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