Portas

Foi apenas com um abrir de portas que tudo aconteceu. Estranho foi ver que ao abri-la, duas novas portas se projetaram. “Esquerda ou direita?”, pensou. E finalmente escolheu a esquerda. Ao entrar se deparou com surpresas.

Havia uma nova porta, única. Esta era tão imensa em altura que olhando para cima não se via o fim, porém, era a mais bela porta vista até aquele dia. A mesma era de um branco e dourado brilhante, e o curioso de se ver eram as marcas em toda a sua frente, como se gotas de chuva houvessem escorrido por toda a superfície semelhante a pequenos riachos que secam e deixam suas feridas abertas no solo.

Não era possível ver o início das tais marcas, pois, começavam junto com a porta. Do infinito acima, para baixo. Ao se aproximar viu que as linhas disformes terminavam próximas a uma maçaneta redonda. Acompanhou com as pontas dos dedos os baixos relevos e ao tocá-los sentiu um misto de sentimentos: amor, ódio, esperança, desespero, alegria, tristeza... A curiosidade foi tamanha que sem nem ao menos refletir sobre o ocorrido levou a mão direita à maçaneta e percebeu que a estranha porta estava trancada.

Tentou duas, três, quatro vezes e em seguida sentiu frustração. Lágrimas escorreram em seu rosto. Sentou-se de frente para o monumento com os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto uma das mãos sustentava seu rosto. Observou por segundos, minutos, horas todos os detalhes da gigante branca e dourada postada a sua frente. Sentiu aquele ser inanimado lhe fazer um desafio.

Pensou em infinitas possibilidades. Empurrar, bater, chutar... "Mas ela é tão alta, impossível ganhar com brutalidade, não há como derrubá-la".

Por fim acabou desistindo, talvez voltasse pela porta às suas costas. E enquanto tentava encontrar justificativas para sua decisão percebeu algo novo. Levantou-se rapidamente e com surpresa constatou que as marcas anteriores, onde terminavam na maçaneta estavam um pouco abaixo, haviam crescido de alguma forma como se novas gotas tivessem passado por ali.

Instintivamente tocou seu rosto molhado e enquanto secava seus olhos viu algo brilhar na porta, refletindo fraquinho na direção de seu peito. Abaixando seus olhos conseguiu formar uma imagem, duas, três, quatro. Uniu-as em uma única figura e então algo se formou: VIDA.

Não conseguindo acreditar no que lia, percebeu que uma emoção muito forte dentro de si surgiu. Sentiu seu peito esquentar, ouviu as batidas de seu coração e o mais impressionante foi perceber naquele exato momento, sua mão esquerda fechada.

Riu para si, pois o tempo todo sua mão segurava uma chave. Abriu-a e no centro de sua palma admirou a pequena jóia branca e dourada. Levantou a cabeça e olhou a tão imensa porta, a infinita continuação da vida em sua frente.

Acompanhou as marcas de suas lágrimas descendo por ela e viu que ainda havia espaço para muitas outras. Não se intimidou, posicionou a chave na fechadura e a girou acompanhando o som das duas peças, liberdade.

Apoiou sua mão na maçaneta e observou os dizeres brilhantes a sua frente "VIDA". "Calma" pensou "já estou chegando". Sorriu. Abriu a porta, e seguiu seu caminho.

Juliana Letícia
Enviado por Juliana Letícia em 26/05/2010
Código do texto: T2281231
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.