Mulher Couve.

Estava meio atordoada, acabada, se alimentando há semanas somente com rufles e Mcdonalds, além de embutidos e diversas outras substâncias letais, alcoóis e coisas tais.

Em sua casa, forno, geladeira e frigideira funcionavam a todo vapor. Sua goela e seu estômago se enfastiavam. Era um horror!

Enquanto não comia e assistia novelas, assistia novelas e comia. Não ria jamais. Era fria e não tinha mais amigas, muito menos paz. Seu espelho mágico vivia a dizer-lhe que estava gorda, que ninguém mais gostaria de lhe correr atrás... Ou de lhe comer no Brás, onde morava; Comeriam sim, talvez, no Morumbi, ou na Vila Mariana. Santana e Brás jamais! Já se fosse uma boazuda comeriam até no Capão Redondo.

Gostaria estar morta e que em sua lápide constasse:

“Aqui jaz Creomilda, do Brás, de Deus e dos homens rejeitada”.

Sentia-se um monstro da artificialidade. Parecia estranha; sua cor, seu cansaço, sua pele pálida, flácida e quebradiça, seu sangue coagulado e seu coração dando sinais de que estava entupido, desenganado e cansado de tudo aquilo...

Foi neste momento que sua alma pediu arrego a seu corpo, fazendo-o acamar, se acalmar, se corroendo por dentro... Momento em que uma luz verde a fez mudar... , como é habitual em situações análogas... (Observe-se que para palmeirenses, como era ela, a luz normalmente é verde; para corinthianos a cor no fim do túnel é negra; já para são-paulinos é um pôr do sol cor-de-rosa..., segundo ditos de Geraldinho, o torcedor).

De tanto ouvir falar nas novelas a respeito dos benefícios da dieta da couve para a saúde, plantou uma horta no fundo do quintal e começou a viver só de couve:

“Suco de couve, salada, doce de couve, couve assada, frita, ao molho, couve pra todo gosto, batida de couve, couve na pele, pra retardar o envelhecimento... A couve, diziam, curava até dor de cabeça. Se colocada em folha fresca sobre o local onde dói, era tiro e queda!”

E assim Creomilda sobreviveu por dois anos, até se cansar dos hábitos humanos e ficar verde...

Em seqüência furou um buraco na horta e se plantou, feito couve, vivendo uma vida feliz até que vizinhos denunciaram e a saúde pública a arrancou de lá, vendendo-a clandestinamente a uma rede de fast food..., “a preço de banana, como se fosse picles”.

Savok Onaitsirk, 19.10.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 20/10/2010
Código do texto: T2567465
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