ANO 5735 - O DESFECHO (Natal Celestial) Parte 13 – UCHI/AZUL – MOMENTOS FINAIS

ANO 5735 - O DESFECHO

(Natal Celestial)

Parte 13 – UCHI/AZUL – MOMENTOS FINAIS

Em ambos os Planetas ocorre abertura de mais portais, parecia que o céu era de todas as cores e era de cor nenhuma. E como pequenos brotos de feijão começam a aparecer seres idênticos aos Arcanjos de cada Planeta, mas ao contrario dos Arcanos estes eram vestidos. Enquanto os Arcanjos tinham a beleza do bambu, ou seja, eram belos apenas por serem belos, estes alem da beleza natural tinha a beleza de seus adereços. Os Arcanjos eram a roseira e estes eram a rosa. Usavam uma espécie de coroa e um bastão ou cedro, eles possuíam uma grande gama de cores em suas asas, em cada movimento que faziam as cores mudavam e era impossível prever qual seria a cor que pareceria a seguir. Os Arcanjos os reverenciavam não apenas na postura, mas no olhar, nos movimentos, nas palavras, eram vassalos perante o nobre, bailarinos perante um coreografo, mas em toda regra há a exceção e esta é Lúcifer no Azul.

Nova serie de portais de abrem em forma de rodopios nos céus, novamente seres alados aparecem, todos tinham dois pares de asas, sendo estas de cores diferentes. Sendo um espetáculo multicolorido, nem os mais loucos pintores surreais poderiam imaginar tal beleza de razão e caos. Todos tinham arcos e aljava de cintura, todos tinham punhais, espadas e escudo. Eram maiores em tamanho aos Arcanjos e os outros seres que saíram antes deles. Todos eram muito musculosos. Os nomes não importavam mais, pois agora todos os que ali estavam sabiam que dentro da bolha de sabão poderiam caber inúmeros universos, pois com certeza Ele existia.

Em ambos os planetas o silêncio era total os observadores estavam boquiaberto.

Nova serie de portais são abertos e novos seres alados, eles eram menos parecidos com os Arcanjos dos respectivos planetas, eles pareciam ser feito de uma matéria líquida e ao se locomover era audível um som que lembrava flautas ou algum outro instrumento de sopro muito suave. Lembravam todas as criaturas e coisas criadas em todos os planetas e a mudança de forma era tão rápida que apenas olhos celestiais conseguiam acompanhar a reverencia a toda forma de vida, seja animal, vegetal ou mineral.

Outra serie de portais se abrem em ambos os planetas e agora os seres alados parecem crianças, com todos os aspectos das crianças de cada um dos planetas a única diferença eram as asas e aquelas crianças traziam com elas uma bola que imitava Uchi e o Azul. O som de risos infantis explode no silencio, todos os seres celestiais se curvam em respeitos as tais crianças. Enquanto tais crianças apareciam na orbita de cada planeta a paz e a felicidade foi tal que tudo que podia gerar energia negativa cessou, a Orca olha para a foca e compreende que ali esta um ser vivo igual e naquela fração de segundo piscou dando tempo para que a foca fugisse e num pé de rosa num canto qualquer do azul uma aranha acaba de libertar uma mosca.

Da próxima serie saiu seres idênticos nos dois planetas, seres que pareciam uma mórula e na serie seguinte sai um ser hibrido de inúmeros animais e da ultima serie sai seres que pareciam mais bolas de fogo do que um ser racional e com vida. A complexidade desses seres era inexplicável, pois cada observador seja ele humano, seja ele nezumi, seja ele uma-ushi, ou seja, um ser celestial via formas diferentes em cada ser, pois cada ser no universo tem uma compreensão única das faces e manifestações Dele.

A abertura desses portais ocorreu de forma simultânea e rápida para os padrões do espaço.

A primeira criança a ter o cordão prateado rompido da um suspiro e morre. Esta criança foi Aijou.

Shin, Mei e Pedro se sentem inúteis perante a morte por doença, eles nunca tinham presenciado o acontecimento, a sensação de derrota era enorme.

O trio de nezumi limpa o corpo inerte do menino, veste-o como um nativo sul-americano do período pré-colombiano. O cansaço de dias velando o corpo da pequena criança era visivelmente estampado na cara deles, cabelos crescidos e barba por fazer. O cortejo segue em silencio até as falésias.

Os três adultos apenas fitam o mar, pensam em todos os ensinamentos passados para eles de geração a geração. A água que dá a vida agora recebia a morte.

Eles lançam o corpo da criança no mar, milhares de pequenos seres iriam usar a matéria como alimento, mas onde estaria o verdadeiro Aijou? Onde estaria o seu ânima?

Pedro apenas se afasta indo soturnamente para a sua carruagem e toma uma beberagem feita de folhas de pêssegos, extrato de cactos diversos e outras plantas e num estado de estupor, libera todos os controles de sua carruagem deixo-a ao léu ao sabor das correntes de ar. Pouco tempo se passa se todo o seu corpo estremece e o calor vem em formas de ondas dos membros para o seu coração. O coração para e Pedro se vê em estagio de loucura fora de seu corpo

Shin deixava de ser Pai para ser apenas Shin e Mei deixava de ser mãe para ser Mei. Shin e Mei que desde que o filho Aijou ficara doente não se alimentava sentaram na beira da falésia e apenas olhava o nascer do sol, de mãos dadas e lagrimas no rosto mal sabiam que eles eram os últimos humanos adultos vivos no planeta.

Aijou sente uma dor súbita e se contorce ao lado de Tenshi, era como se algo fosse arrancado dele, por um segundo ele perde a visão, ele já não fazia mais parte do Azul, agora um novo começo se iniciava.

O maior espetáculo que um ser vivo podia imaginar estava ocorrendo em sua frente, milhares de Uma-Ushi alados estavam ali. Eram os Anjos e estes eram liderados por Arcanjos e diversos outros seres que até então para Aijou era lenda estavam ali em sua frente, mas o que ele apenas sentia era uma dor profunda. Sentia a dor do membro amputado. Sentia saudades por quem ele fora, por Shin, Mei e Pedro e de todas as outras pessoas que amara. Nessa fração de segundo que durou a dor em seu peito ele apenas sentia uma lagrima escorrer em sua face e um zumbido muito longe em seu ouvido. Escutava uma espécie de oração ou canto sendo repetidas inúmeras vezes em sua cabeça, naquele momento ele soube que sempre essas pessoas fizeram parte de sua vida, mas não da vida de Aijou, o nezumi, mas da vida do nezumi mutante, da vida do aborto nezumi, do terrestre mutante, do terrestre que queria que todos fossem iguais, mas era considerado o diferente perante todos, do humano que encantou a muitos, pois sabia usar o seu corpo para satisfazer outros humanos, do negro africano, do indígena pré-colombiano, do esquimó que veio parar nas costas de um país aquecido por um sol. Aijou se viu não como uma pessoa, mas como muitas pessoas e conhecedor de muitas coisas e com todo este conhecimento restou ao menino apenas gritar.

... Água da vida, vida da água, água que vira vapor e vira chuva e da vida e que congela nos pólos...

Shin e Mei recitavam cânticos aprendidos no “curator ex is aequora”, de mãos dadas apenas recitavam, sem esperanças, sem emoção, apenas esperavam o sopro da vida por eles passar, eles não se falavam, apenas cantavam, um cântico da vida com pronuncia morta e apenas fitavam um ponto no infinito, como se no infinito houvesse uma solução para toda a dor que eles sentiam e ambos pensavam como seria mais fácil deixar o corpo apenas ir para frente e quem sabe ao ser alimento ter sua consciência desperta ao lado do filho.

Pai André estava ali em pé, energizando-os para que eles tivessem a ruptura do cordão prateado naturalmente, mantendo a calma, o velho sabia mais do que ninguém, das conseqüências que os atos contra a própria vida podiam causar no ânima de uma pessoa, ele trabalhara muito ajudando na recuperação e no socorro de suicidas, mas às vezes perdia a luta, pois na espiritualidade na maioria das vezes o que se pode fazer é orar e vibrar positivamente para que tudo se resolva de maneira positiva. O negro, mais do que nunca, pedia ao Pai orientação, ele na sua evolução olhava para o céu e via todos os seres celestes ao redor do Azul, seria proteção ou destruição do planeta? Pela primeira vez em milhares, talvez bilhares de anos, Pai André se sente cansado. Ele senta ao lado do casal e com o seu rosário na mão pede perdão ao Pai, perdão pela inércia, pois fazer certo ou errado faz parte da evolução, mas deixar de fazer, isso sim é errado. O Negro velho chora não por ele, mas por aqueles que fracassaram, por aqueles que pelo nome do amor deixaram de falar não, chora, pois só agora ele lembrava como ele era quando veio de Capela e o que ele agora era.

Um único portal ainda fechado em Uchi e no Azul.

Os segundos perdem a sua razão de ser.

Os minutos perdem a sua razão de ser.

Nada mais importa, pois tudo parece não ter mais importância, o sol de ambos os planetas parecem que pararam em suas orbitas, as marés pararam o tempo deixou de ser contado.

O tempo é algo engraçado quando um segundo pode parecer um segundo ou parecer um século dependendo da ansiedade e da perspectiva dos fatos? Não importa. O tempo não importa mais. A última cartada esta sendo lançada no Azul. A principal cartada da evolução de Uchi esta sendo lançada

Senchi-tashi desencarna. Engraçado não ter vontade de ter outra forma a não ser a dela mesma, ela que sempre fora tudo menos nezumi agora queria apenas ser ela, ela olhava ao seu redor e via outras inúmeras crianças desligando-se do corpo e todas estavam tão nezumi.

Denki desencarna. Perdido a principio, pois não sabia para onde ir, as projeções não estavam funcionando, parecia estar no meio de uma multidão. Ele tinha consciência do tinha ocorrido ao seu corpo físico, mas e agora o que fazer? Ele era um na multidão e tinha a consciência que todos ali estavam sentindo como ele.

Bishoujo num suspiro encontra Bishounen a atração que um sentia um pelo outro agora era mais evidente, sem o cordão, até um simples piscar de olhos se tornava complicado sem que fosse feito em conjunto. A fala, a projeção, a mentalização, tudo perderá a razão, pois eram dois em um, ou seria um que estavam em dois, a noção de individualidade já não importava mais para eles.

Ainda restava no Azul dois nezumi encarnados, eram os últimos, eram Adão e Eva encarnados, esperando a volta para o Paraíso. Ao lado dos últimos um guardião negro velho apenas orava e aguardava o desfecho

O ultimo portal se abre...