Paquito morreu

Paquito era um cão de raça basset, meu único e verdadeiro amigo dentro de um quintal grande, gramado, com grande varanda, até que confortável.

Passei muitos anos na sua companhia, éramos inseparáveis, eu tinha nele meu amigão, meu exemplo, meu companheiro nas reivindicações diárias. Desde que cheguei nessa casa, nunca passei um dia sequer longe dele.

Dia desses ele jantou, bebeu água, deitou-se e então... morreu.

Eu notara ele dormindo, mas só vi isso no dia seguinte, quando vi a dona aos prantos, ligando para seus amigos e familiares, lamentando a morte de nosso amigo, que durante dezessete anos fez companhia nessa casa.

Já a algum tempo eu notara que ele já não estava bem. Com o olhar fraco, surdo, andando mais lentamente pelo quintal, acima do peso, era mais dorminhoco. Mas era meu amigão. Aliás, meu único amigo de verdade, presente vinte e quatro horas por dia.

Mas o Paquito morreu. E me sobrou um quintal gigantesco, silencioso, monótono, frio, sem companhia. Tenho sentido falta de apetite, solidão, até medo no meio da noite. Não sei o que será de mim daqui para a frente. Sem companhia, definitivamente meus dias se tornaram longos demais para suportar. Choro a falta dele. Como choro!

A propósito, sou Fly uma mistura de Poodle com yorkshire e me orgulho muito disso. Sou de linhagem, tenho tradição. Já ouvi algumas pessoas dizerem entre si, que sou feio tanto quanto um ET. Mas não me rendo. Mas também não tenho espelho, tanto faz. Vim para esse quintal a muitos anos, até perdi a conta. Sou bem tratado, me servem água limpa todos os dias, comida nova, boas rações e até banho no pet de vez em quando (que aliás eu detesto). Mas enfim...

Companheiro de Paquito no quintal por muitos anos, acho que estou com quase dez anos de idade, até perdi a conta. Uma longa vida, sei que minha hora se aproxima. Quem sabe meus donos me dão outra companhia. Estou torcendo.

Não sei viver nesse espaço enorme, cheio de gramas, muro alto, sem nenhuma visão para o exterior. É entediante. Sinto cheiro de outros cães passando na rua. Fico louco de curiosidade. Mas pára por aí e então volto pro meu mundo singular. Na companhia de meu amigo era moleza. A gente se divertia, estávamos sempre juntos, explorando debaixo do pé de figo, das plantas ornamentais, debaixo dos carros que estacionam ali. A vida tinha sentido...

Mas infelizmente Paquito morreu. Um dia eu também vou. Mas enquanto isso, me resta olhar para o monte de terra onde o enterraram. Sei que em breve a grama cobrirá tudo e então será apenas passado.

E enquanto não me arrumam uma companhia, fico aqui lamentando a solidão, associada à saudade de meu grande amigo Paquito.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 23/04/2011
Reeditado em 14/09/2013
Código do texto: T2926394
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