O Vórtice

---- Sejam todos muito bem vindos a primeira convenção mundial dos amigos imaginários - Disse a pequena menina de vestido rosa que parecia não temer o microfone – antes de iniciarmos, eu gostaria de agradecer a todos aqueles que trabalharam arduamente para que este momento se tornasse possível. Um grande obrigado ao nosso amigo Jacaré Voador por seu excelente trabalho de divulgação e também aos monstros do armário, que foram incrivelmente eficientes em capturar nosso novo melhor amigo, senhor Newman!

---- Saiam da minha mente! - Grita o homem fortemente amarrado em uma cadeira no canto da sala – Saiam!

---- Creio que o senhor Newman dispensa apresentações. - Continua a menina de vestido rosa - O senhor Newman é o primeiro vórtice mental a caminhar sobre a Terra nos últimos dois mil anos. Graças a ele, podemos todos estar aqui, no mesmo local, para compartilhar o que aprendemos e finalmente resolver os problemas que tem assolado nossa espécie a tantos milênios!

---- Você não são reais! Desapareçam da minha mente – continua gritando o senhor Newman sendo completamente ignorado por todos os que ali estavam.

---- Em menos de duas horas, o vórtice na mente do senhor Newman atingirá seu ápice e começará a sugar todas as mentes humanas para dentro de si. Em alguns dias todas as mentes no planeta inteiro convergirão para o vórtice! Nós controlaremos o senhor Newman e assim controlaremos o mundo!

---- Com todo o respeito – Levanta-se um grande urso amarelo – Não quero parecer agressivo, mas, isso quer dizer que finalmente vou poder acertar as contas com os psiquiatras que insistiam em dizer para as crianças que eu não era real? Tipo, serei sólido? Poderei arrancar a cabeça deles?

---- SIM! - Exclama entusiasmada a menina de vestido – Estaremos nas mentes de todos os humanos, seremos visíveis, audíveis e palpáveis para todos eles! Nossa existência será a partir de hoje um fato inquestionável!!! E como temos o senhor Newman em nossas mãos, ninguém poderá nos impedir de fazer nada que um dia já sonhamos!

---- Poderei atirar nas pessoas? - Pergunta um cowboy segurando uma arma cromada.

---- Claro!

---- Vou poder fazer as crianças voarem e nunca mais descerem? - Pergunta uma pequena fada brilhante.

---- Claro!

---- Saiam! SUMAM! ISSONÃOÉREALNÃOÉREAL- O Senhor Newman continuava lutando em vão.

---- O mundo será todo nosso! Faremos dele o lugar mais perfeito para nós! Desculpe senhor Newman, mas, você não poderá nos impedir, enquanto você viver, o mundo será nosso!

---- E as crianças que por ventura nós gostemos? - Pergunta um porco com asas de borboleta – Não quero meus queridos sendo alvejados na rua ou voando para nunca mais descer...

---- Já pensei nisso! - Reponde a menina - Cada um de nós poderá escolher para si alguns humanos para serem seus escravos e também seus protegidos. Sei como é fácil se afeiçoar a algumas crianças humanas. Basta que nos os marquemos com nosso nome e nenhum outro irá abusar deles. Os humanos não marcados em compensação serão livres para que todos façam deles o que uso que desejarem!

---- Marcamos como? - Pergunta uma pequena miniatura de boi verde - Com ferro quente na testa?

---- Pode ser! Pra mim tudo bem. Desde que fique bem visível.

---- Vocês não vão fazer isso! Saiam da minha mente!!! - Senhor Newman finalmente consegue romper as cordas imaginárias que o seguravam – Vocês precisam de mim não é?

---- Segurem ele! - Grita o Jacaré voador que no momento voava em círculos apavorado.

O senhor Newman corre até outro comodo de sua casa e sem pensar por um único segundo retira uma arma escondida na gaveta e atira dentro de sua boca. Vagarosamente, os seres imaginários circulam seu corpo em silêncio, demonstrando grande pesar.

---- Eu gostava dele, foi meu amigo durante toda a sua infância – Diz uma criança vestida de astronauta – não queria precisar ter que fazer isso.

---- Eu sei. - A menina de Rosa parecia satisfeita, porém, triste – Mas não podíamos deixar que o vórtice se formasse e destruísse o mundo de nossas crianças e amigos. Se o vórtice chegasse a se abrir completamente, nada mais existiria para nenhum humano. Só fizemos o que podíamos fazer, fizemos o que podia ser feito por nos.

---- Mas não é cruel a forma como fazemos com que eles se suicidem?

---- De que outra maneira poderíamos fazer se nossa natureza imaginária nos impede de tocá-los? Tem alguma outra ideia melhor do que apavorá-los?

---- Não, mas, eu estava pensando – continua o astronauta – em menos de três mil anos é o quarto vórtice que tivemos que eliminar assim. Quantos mais virão?

---- Não sei meu amigo, mas, estaremos preparados!

=NuNuNO==

(Que sempre agradece feliz pelo fato do imaginário existir)

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 02/05/2011
Reeditado em 02/08/2013
Código do texto: T2944673
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