O homem do Canadá

Fui criada em uma família de cinco irmãos, eu a única mocinha no meio de marmanjos, cresci vendo suas disputas, rivalidades, meu pai tinha pulso forte para manter o equilíbrio da harmonia, sempre passando uma mensagem que cresci ouvindo-o falar e meus irmãos a repetirem: “_homem, que é homem não chora”.

O tempo se foi e cada qual procurou seu destino, hoje todos casados e com suas famílias, eu tive poucos relacionamentos, também pudera vivia em uma arena, casei cedo com o Paulo, aos 19 já estávamos curtindo nossa vida de casado, ele 10 anos mais velho que eu, mas nossa diferença de idade só servia para que nos completássemos; apaixonei-me pelo jeitão dele, rústico, inteligente e muito centrado.

O Paulo trabalhava na indústria Petrolífera, e passava algum tempo embarcado, eu resolvi cursar faculdade de farmácia, mas passava boa parte de meu tempo sozinha, ocupava-me em viajar de posse de meu computador, era ali que eu saia de casa, fazia pesquisas e às vezes buscava alguém para dialogar, e foi em uma dessas minhas viagens que conversei com um homem, conterrâneo, mas que estava no Canadá tentando ganhar a vida, achei sua história bem comovente e interessante, adicionei-o sendo sempre muito sincera, avisava que eu era casada e que não procurava um relacionamento.

Assim começamos a nos conhecer, no início por fotos, mas logo ele ganhou minha confiança e eu o vi pelo vídeo, era um homem com traços fortes, olhar sofrido, morava em uma casinha sozinho, me mostrava toda sua casa, às vezes fazia macarrão e eu o fazia companhia, ele sentia falta do tempero brasileiro e de sua família que deixara aqui.

Ele queria muito me conhecer, eu não curtia a idéia de me mostrar para um estranho, mas após um tempo, passamos a nos ver e nos ouvir, às vezes eu cantava pra ele, conversávamos sobre nosso dia a dia sempre com muito respeito, pois eu deixava bem claro que idéia de voyeurismo passava bem longe de meus pensamentos.

Um dia ele me mostrou a neve que caía no Canadá, foi bem legal, eu o vi escrever com carinho meu nome na neve, fazíamos companhia um ao outro, eu achava que era uma amizade bem legal.

Mas um dia aconteceu algo que me decepcionou profundamente, ele falou-me de sua carência, eu tentei contornar a situação, mas ao abrir o vídeo, ele estava completamente nu, com seu membro rígido, eu desliguei na hora e digitei palavras agressivas, despedindo-me e lamentando o ocorrido, ele se mostrava desesperado, tentando se desculpar, mas eu não queria aceitar, por um bom tempo parei de conversar com aquela pessoa, mas ele parecia arrependido, eu até lia seus escritos, e ignorava, mas um dia ele insistiu tanto que acabei cedendo e recebi sua chamada de vídeo, só a dele, e algo me chamou a atenção, ele chorava no Canadá, um homem chorando por mim...

Aceitei suas desculpas, avisando que tentaria esquecer o ocorrido e que não se repetisse e realmente não se repetiu ele desapareceu, nunca mais soube quaisquer notícias sobre aquele desertor.

Foi assim que vi as primeiras lágrimas de um homem.

Damiana Almeida
Enviado por Damiana Almeida em 24/05/2011
Código do texto: T2990829
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