O HOMEM TEM A CRUZ NA CABEÇA.

O HOMEM TEM A CRUZ NA CABEÇA.

Relembrando as histórias que meu avô me contava lembro-me de diversas delas. Lembro-me que ele me dizia: meu neto o homem tem a cruz na cabeça... O cavalo não é abençoado... O burro é o cruzamento do jegue com a égua... O galo canta ao meio dia...

Meu avô sabia das coisas mesmo não tendo ido à escola ou mal sabendo rabiscar o nome e tendo pouca leitura. Aliás, na sua roça livro era raro. Lembro-me que ele possuía só um livro da capa-preta, o qual guardava a sete chaves. Lembro-me ainda que ele depois de rezar o terço às 18:00 horas fechava as portas e janelas e não recebia ninguém à noite em sua casa de pau-a-pique e chão batido de adobe.

João de Aredes é o seu nome. Nascido em Santa Maria do Suaçuí/MG = Brasil. Minha mãe até hoje sente sua falta. Ele era amigo do Capitão Pedro Ferreira dos Santos. O Capitão quando saía de Governador Valadares/MG, para fazer suas capturas sempre lhe pedia o apoio. Aredes foi correios-montado e muitas vezes quase atropelado pelos Jeeps dos americanos nas estradas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce.

Meu pai, um homem de fibra, casou-se com minha mãe aos 18 anos de idade e migrou-se para a Figueira do Rio Doce, hoje Valadadólares. José Lúcio Ferreira, estabeleceu-se naquela cidade que até então era satélite de Santa Maria. Nasci em Santa Maria do Suaçuí, mas fui registrado no cartório de Valadares, pois, poucas pessoas acreditavam que a capital do Rio Doce fosse se transformar na cidade mais americanizada de Minas Gerais.

Hoje moro na capital mineira há 30 anos. Sou feliz aqui. Aqui crio meus filhos. Aqui fiz minha vida na Polícia Militar. Aqui tenho amizade, aqui tenho amor e carinho. E à beira da terceira idade aqui quero viver até quando Deus quiser e eu puder, já que sou mortal para Ele e imortal para os homens e mulheres. Sou acadêmico da Academia de Letras ¨João Guimarães Rosa¨, da Polícia Militar Mineira e acadêmico da Academia de Letras do Brasil/MG, com muita honra e satisfação.

Mas... Voltando ao título, meu avô sempre acompanhava o autopisista em seus trabalhos no cemitério, quando este pedia ao coveiro para exumar um cadáver e o autopsiar a mando da autoridade competente. Hoje não, a autópsia é feita nos Institutos-Medicos-Legais, conforme determina a lei criminal.

Então, para finalizar diga-se ¨en passant¨ que numa dessas autópsias meu avô, inteligentemente, examinava a caveira dos mortos e, através desses exames, a olho nu, ficava sabendo se se tratava de homem ou de mulher o cadáver. Bastava verificar a Cruz. Se havia cruz era homem. Se não era mulher falecida. O menino mesmo estando com a moleira mole, já tinha a cruz na cabeça.

Meu avô não foi um craniologista, mas que entendia do riscado isso ninguém pode negar hoje.

Tenho escrito. Felicidade e Paz!

Luiz Limagolf