Poeiras e Vestígios

O relógio velho, o cuco rouco, as cordas enferrujadas,enfeitavam a parede embolorada do casarão, com portas e janelas que rangiam ao toque imperceptível do vento.

Um tapete vermelho, descolorado pelo tempo, trazia marcas de gloria, luxo, dificuldades e desolações.

O porão era a memória das familias que por ali passaram. Era segredos, rancores e medo.

Tudo estava escuro, naquela sala imensa, cheirando a vazio. A dama desceu as escadas como que flutuando. Trazia um lindo vestido e jóias na mente. Seu corpo, porém, ostentava um trapo imundo.

Acertou o relógio quebrado na parede, por que queria ouvir o cuco, o sinal de que chegara a hora. De repente, ele começou a funcionar e o minutos cumprimentavam o tempo.

Ela acendeu os candelabros e arrumou a mesa para o jantar. Os convidados seriam muito e, certamente, iriam apreciar um jantar requintado...Reclamava das empregadas que estavam fora e do mordomo que se demitira.

O relógio anunciou, através do cuco, a chegada dos convidados.

Sombras saídas do porão, dos quartos, das paredes, eram iluminadas pelas chamas que ardiam nos candelabros folheados a loucura e solidão.

Sentaram-se à mesa e, junto com ela, comeram e conversaram a noite toda, ao som da música suave e nostálgica vinda do sonho ou de lembranças daquela mulher.

Terminado o jantar, todos foram para a sala de visitas... O tempo ia passando naquele relógio quebrado na parede.

Os convidados, aos poucos, saiam e seguiam o seu rumo. Uns atravessavam as paredes, outros caminhavam para o porão ou para os quartos sempre vazios.

Ela, então, cansada e contente com o sucesso do jantar, subiu para o seu quarto e sumiu no espelho trincando. Espelho que guardava os reflexos das sombras que teimavam em viver.

Magda Ribeiro Botelho
Enviado por Magda Ribeiro Botelho em 24/10/2011
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