FRAGMENTOS
Errante, caminho em sobrevida - a vida já se fora, perdida naquele tempo distante - encortiçada como num circo com a grande platéia a sorrir dos palhaços, que se teatram com suas máscaras.
É noite, e o aroma vindo dos canteiros, com suas árvores e flores, inebriam minha mente, trazendo o cheiro dos túmulos enfeitados, nos cemitérios onde não há mais espetáculos, nem plateias, nem palhaços.
Sim, o riso é o prenúncio do choro. Tento evitar a morte, elevando meu pensamento ao distante. O momento é único, e a ele tento me apegar, como que num último esforço, apenas para olhar para aquele fragmento de vida passada.
Num lapso, vejo-me lá. Semidesnudado e adverso ao porvir que se escondia nas faces dos antigos atores, entre a fumaça de algo queimado à tarde, sob o sol ou a chuva a me tocarem a pele, em dias e noites, havia eu por sonhar entre as pequenas gentes de minha infância. As brincadeiras se davam num grande parque de diversões, onde havia a ruptura da realidade: As peladinhas, os piques-na-lata, os rouba-bandeiras, as amarelinhas, os esconde-que-eu-te-acho formavam momentos que tocavam o âmago ainda não contagiado das jovens almas.
Nos jardins, as borboletas voavam, o céu era admirado em seu azul ou nos pontos de luz a brilhar e os pássaros vinham visitar o terreiro onde morava o pequeno caçador. O mar não conhecia, nem as montanhas, nem cidades outras, nem nada além daquele lugar onde se agigantava meu vasto mundo.
Quando se quebrou o encanto? Exatamente não sei em que canto escuro e silencioso ficou o fulgor daquele tempo. Talvez tenha sido exatamente olhando para a sinfonia dos homens e para o espetáculos dos palhaços que, inadvertidamente, perdi-me.
Sim o circo sempre teve seus palhaços, e sempre houve quem os acompanhasse em sonoros sorrisos e escondidas dores.
Hoje, transformei-me em mais um personagem, mais um ser sem rosto que se esconde atrás de uma máscara de sorriso largo, na grande encenação.
As borboletas ainda voam, o céu ainda se apresenta azul ou coroado de estrelas e os pássaros ainda vêm visitar o terreiro onde moro, mas a inocência e, a vida como tal, foram-se para sempre.
E, comigo, o mundo se encheu de atores, num grande espetáculo de palhaços sorridentes, cujos semblantes escondem a mesma pureza perdida.
Morte em vida... Sobrevida...
Péricles Alves de Oliveira
É noite, e o aroma vindo dos canteiros, com suas árvores e flores, inebriam minha mente, trazendo o cheiro dos túmulos enfeitados, nos cemitérios onde não há mais espetáculos, nem plateias, nem palhaços.
Sim, o riso é o prenúncio do choro. Tento evitar a morte, elevando meu pensamento ao distante. O momento é único, e a ele tento me apegar, como que num último esforço, apenas para olhar para aquele fragmento de vida passada.
Num lapso, vejo-me lá. Semidesnudado e adverso ao porvir que se escondia nas faces dos antigos atores, entre a fumaça de algo queimado à tarde, sob o sol ou a chuva a me tocarem a pele, em dias e noites, havia eu por sonhar entre as pequenas gentes de minha infância. As brincadeiras se davam num grande parque de diversões, onde havia a ruptura da realidade: As peladinhas, os piques-na-lata, os rouba-bandeiras, as amarelinhas, os esconde-que-eu-te-acho formavam momentos que tocavam o âmago ainda não contagiado das jovens almas.
Nos jardins, as borboletas voavam, o céu era admirado em seu azul ou nos pontos de luz a brilhar e os pássaros vinham visitar o terreiro onde morava o pequeno caçador. O mar não conhecia, nem as montanhas, nem cidades outras, nem nada além daquele lugar onde se agigantava meu vasto mundo.
Quando se quebrou o encanto? Exatamente não sei em que canto escuro e silencioso ficou o fulgor daquele tempo. Talvez tenha sido exatamente olhando para a sinfonia dos homens e para o espetáculos dos palhaços que, inadvertidamente, perdi-me.
Sim o circo sempre teve seus palhaços, e sempre houve quem os acompanhasse em sonoros sorrisos e escondidas dores.
Hoje, transformei-me em mais um personagem, mais um ser sem rosto que se esconde atrás de uma máscara de sorriso largo, na grande encenação.
As borboletas ainda voam, o céu ainda se apresenta azul ou coroado de estrelas e os pássaros ainda vêm visitar o terreiro onde moro, mas a inocência e, a vida como tal, foram-se para sempre.
E, comigo, o mundo se encheu de atores, num grande espetáculo de palhaços sorridentes, cujos semblantes escondem a mesma pureza perdida.
Morte em vida... Sobrevida...
Péricles Alves de Oliveira