O Sonho do Aquário

(Em homenagem ao "Planeta Água")

No quintal de uma casa simples, de número dez, abandonada há anos, se reuniam, de vez em quando, para brincar e discutir coisas que achavam interessantes, as crianças de uma vila. Era início de outono e resolveram que naquela noite de terça-feira a brincadeira seria de contar o seu sonho da noite anterior. Ficou decidido que o melhor sonho seria escrito e guardando no baú, que elas próprias haviam confeccionado e que era mantido, sob sigilo, num dos cômodos daquela casa. Tudo que elas achavam que poderia beneficiar a natureza como também a humanidade, depositavam lá.

Sob o céu bastante estrelado, o clarão da lua e com muita seriedade, começaram a brincadeira daquela noite. Ali, havia um total de doze crianças, entre meninos e meninas. Todos os sonhos foram contados e ouvidos, atentamente, por cada um do grupo. Ao final, o sonho vencedor foi o da menina Acácia. Pela sua beleza e seu caráter relevante, deram-lhe o título de ‘O Sonho do Aquário’. Em seguida, foram providenciar o seu registro. Por precaução, deveria estar ele protegido de qualquer intempérie. Mas, como tornar isso possível se a casa era de madeira e o baú era de palha?

Foi assim que uma das crianças teve a ideia de que o melhor lugar para se guardar aquele sonho seria a própria memória. Então, levantou e disse:

_ Que tal a gente guardá-lo no nosso arquivo pessoal, ou seja, na nossa mente?

_ Aprovado! – Gritaram as demais.

Agora, só precisava que Acácia repetisse o sonho. E assim foi feito:

_ Era um dia especial do mês de março, e uns homens marcavam lá, não sei o quê, num calendário qualquer. Não demorou muito e a Água apareceu. Ela descia de um altar, vestida de um jeito transparente e logo começou a se despir. Os homens fecharam os olhos. Primeiro, ela tirou um lindo e enigmático véu. Disse que era o símbolo das cachoeiras. Em seguida, fez cair um longo manto. Falou que representava a vastidão dos mares. Depois, desenrolou belas faixas que lhe serpenteavam o corpo. Disse ela, ser tudo aquilo o curso dos rios. Mais tarde, repousou sobre si mesma e nos fez enxergar a placidez dos lagos. Por fim, desatou um nó à altura da sua garganta e deixou cair longos pingos de lágrimas. Tudo isso se transformou numa chuva ruidosa que fez de todo o mundo uma só tempestade.

Assim, quando o silêncio voltou, a Água pôde se expressar serenamente:

_ Eu tenho algo a lhes dizer...

Pena que aqueles homens não tinham mais ouvidos.