UM IMENSO VAZIO!

Maurício já não era mais criança, mas parecia não ter condições de raciocinar, pois se tornara um infeliz profissional no momento em que optou pela infelicidade real e suposta felicidade virtual. (IN) felicidade virtual, já que o que não é palpável só funciona quando serve para mantermos contato com pessoas que conhecemos, mas estamos sem outro meio de comunicação que nos una.

Nessa vida vazia (VIDA?!?!?!) ele passava os dias conversando com pessoas que jamais veria, buscando amores que jamais sairia da tela. Oh, amores virtuais? Isso não existe, mas a prostituição internauta é mais comum do que se pensa. Fruto de cabeças vazias, de falta de amor-próprio para buscar algo real, palpável.

Mas Maurício continuava nessa existência ridícula até que um dia conheceu Fernanda, uma pessoa também não tão nova e que não era do tipo a que ele estava acostumado. Ele foi puxando papo. Ela era uma mulher inteligente, esperta, desconfiada, mas os anos que ele acumulara em frente a um computador buscando o nada, o vazio, servira para perceber quando uma pessoa poderia ser manipulada através da piedade. Pronto, ele se mostrara a pessoa mais infeliz do mundo, doente, e mais um monte de coisas que, sinceramente, caso fosse verdade, o faria estar em cima de uma cama cheio de tubos e respirando artificialmente.

Mas o bom coração de Fernanda estava muito ferido justamente por outros seres humanos que a enganaram ou a traíram. E ela tinha uma vida de verdade, sofrida como a de todos, mas era REAL!

Um laço de amizade foi se criando, mas Fernanda sempre com o pé atrás, pois tinha uma teoria de que a internet, apesar de suas múltiplas utilidades, era um lugar repleto de desajustados emocionais e sexuais. Jamais se deixou enganar totalmente. Sabia que aquilo ali era um delírio de Maurício, um ser solitário, emocionalmente perturbado e maltratado pela vida. Os ingredientes necessários para a formação de uma personalidade problemática.

Realmente, ela tinha razão de desconfiar, Maurício tinha muitos vícios. O pior deles era a mentira e o monte de pessoas que ele amontoava como amigas, buscando uma realização afetiva que só existia em sua cabeça.

A angústia foi tomando conta de Fernanda e ela acabou optando pelo afastamento, mas sabia que teria que ser algo gradual, lento e definitivo. Foi buscando motivos. Como boa pesquisadora, achar indícios não lhe era difícil. E assim ocorreu. Ela acabou descobrindo coisas que foi transformando Maurício, aos seus olhos, em um ser que precisava de ajuda sim, mas profissional, já que adoecera levando os dias naquela neurose, naquela coisa doida, doentia.

Um dia ela conseguiu se desligar. Que alívio! Até poderia ter dado certo, se ele fosse o que tentava mostrar à ela, que era uma pessoa excepcional como jamais encontrara em sua vida fora do mundo real.

Maurício tomou um susto com aquela decisão radical de afastamento e percebeu finalmente o vazio que era sua vida, a falta de objetivos, de felicidade, de perspectivas e de verdade. Mas agora era tarde demais. Os céus nos oferecem caminhos de ouro, mas estamos tão imersos no lodo existencial que não percebemos que perdemos a única chance de não ser mais um autômato, mais um objeto sexual para as pessoas doentes que habitam o espaço cibernético.

Chore, Maurício, pois agora só lhe resta esperar a hora de partir dessa vida e sair desse buraco que você mesmo cavou para si.

18 de maio de 2012 – 23:24 horas

Emar
Enviado por Emar em 18/05/2012
Reeditado em 19/05/2012
Código do texto: T3675557
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