A mentira dos sarcedotes

Capítulo dois: As mentiras dos sacerdotes

trecho do Evangelho segundo Aquenaton

editora livre expressão

1

Por volta do meio dia à menininha correu em direção ao velho moinho, para ouvir mais canções sobre o faraó Aquenaton, ela encontrou novamente o trovador que começou a dizer:

— Como você está amiguinha? Percebi seu desejo de escutar mais sobre aquela velha canção egípcia, pois bem princesinha ouça!

Aquenaton juntou se ao seu comandante com seus guardas de confiança, pelo caminho encontraram uma serpente e o faraó começou a pensar na possibilidade de ser um mau presságio. Quando Aquenaton percebeu que havia ali uma multidão com um só desejo. Ouvir sua voz, que ecoava suavemente a revelação de uma verdade além do deserto.

O faraó disse:

— Não há nada pior em nossa cidade do que os sacerdotes! Eles somente contam mentiras, alem de corromperem nossas almas!

Tomam bebidas que representam nosso sangue em suas festividades e comem pães que são como a carne da nossa carne, fruto suado nosso trabalho compulsivo. São ladrões e descansam sobre nossas costas!

Mentem e como mentem ao povo esses cães! Na crença dessas mentiras surgem inúmeras insanidades. A terra fica dividida pelo símbolo da fé e da guerra. Flores negras enfeitam túmulos ainda mais escuros. Criaturas noturnas vagueiam sem almas nesse abismo que engole toda luz.

Mas o brilho das águas do Nilo purifica qualquer tipo de contaminação, pois a água é pura e limpa, própria para dissolver a corrupção dos sacerdotes.

Egípcios agora contarei a vocês as maiores mentiras dos sacerdotes, que tiveram seu início no tempo do rei escorpião atravessando o tempo do rei serpente, e chegou até como um grande rei rato.

Eles distorceram o sagrado culto de Ísis, que deu nova vida a Osíris, a magia da ressurreição, o segredo do deus que morre. Como a alma poderia retornar em um corpo apodrecido sem sangue e nem vísceras, tal loucura ainda é uma verdade para nossos homens.

A magia Egípcia não ergue um corpo podre e sem vida de uma tumba, olhe o mito do sol que morre e renasce esse é o maior símbolo para uma crença na imortalidade da luz e num ciclo de pluralidade das existências. Não há morte para alma!

Malditos sacerdotes que definem deuses com características humanas e os relacionam com nosso cotidiano. Como um deus pode ser feito a imagem e semelhança do homem? Não seria um deus mais do que um homem? A grande mãe Ísis, o poderoso Hórus, e o misterioso Osíris estão muito além das nossas virtudes e dos nossos defeitos. Não há como definir Aton, pois ele é tudo. Todos os deuses e deusas, todas as imagens estando no limite da imaginação dos homens, assim é Aton que nunca condena a alma humana. Seu culto é liberdade.

Thot nos revelou o segredo das palavras, mas de todas as palavras as mentiras sufocaram nossa dignidade. Troque todas as mentiras por uma verdade!

Maldita crença que após a morte Anúbis cuidará do nosso julgamento pesando nosso coração na balança. Não existe condenação além da vergonha de viver no erro e como néscio colher os frutos da maldade.

Os sacerdotes deixam os homens fracos. Impedido que eles alcancem a luz por si mesmos e façam seus próprios milagres.

Não há início e fim, mas início, fim, e reinício essa é uma verdade que a natureza ensina.

Na loucura da fé temos os grandes exemplos de vingança, xenofobia, e todos os tipos de preconceitos ditados por sacerdotes loucos com seus incensos sendo queimados, para disfarçar o cheiro de sangue dos seus templos. Sangue sacrificado em nome da loucura, maldade, estupros, assassinatos, roubos, o Egito morre e os sacerdotes engordam. Os sacerdotes são piores que Set e todos os demônios.

Ao terminar essas palavras, todo o Egito se escandalizou, muitos ofereciam se para matar o faraó. A luz que Aquenaton trazia para o Egito era intensa demais para homens despreparados suportarem.

Os sacerdotes formavam uma verdadeira irmandade da serpente. Sempre se reuniam em covis escuros traçando seus planos nefastos. Queriam mostrar a força do seu grupo apenas esperavam uma oportunidade.

No ar era sentido toda podridão e enxofre de um dia quente como uma fornalha. Uma coisa estava clara para Aquenaton. Basta uma bela festa, pão e muita cerveja para os homens perderem suas virtudes na loucura dessas ilusões. Homens nunca enxergam a verdade e os sacerdotes sabiam disso muito bem.

Aye era o pior deles distorcia tudo que era bom, e cultuava tudo o que era mal fingindo cultuar o sagrado sol.

Dor e miséria estavam acompanhando esses sacerdotes, seus corações estavam ressequidos espalhando sua doença pelas terras vizinhas.

Aquenaton Sabia que apenas com a luz o Egito mostraria mais uma vez sua pompa e glória, para isso era necessário o povo lembrar o orgulho de ser um egípcio e não um dos homens das terras distantes do Nilo que não conheciam o amor, a moral, a ética. Coitados precipitados no abismo com os demônios da violência, opressão, fome, ignorância.

2

Nefertiti viu Aquenaton triste, desolado, com o coração na mão. O olho de Hórus revelava uma nova visão para um tempo além daquele tempo, e Nefertiti perguntava:

— O que há com você?— Nada! Respondia Aquenaton. Apenas um pouco de melancolia. Mas Nefertiti se você soubesse que minha tristeza é tão profunda que caso eu chora se, cada uma das minhas lágrimas encheriam um rio com a mesma extensão do Nilo, e caso minhas lágrimas fossem gotas de sangue os olhos do Nilo seriam vermelhos. Toda visão seria monocromática.

Nefertiti sem compreender deixava aquele recinto e Aquenaton olhava para a direção do sol, mesmo sozinho diante daqueles que amava, ele não se sentia só, pois Aton estava presente em todos os lugares. Aquenaton nunca estava só, ele foi o primeiro a compreender a luz, portanto tornou se o filho da luz.

Aquenaton não poderia guardar para si a verdade, ele traçou vários estratagemas para que o culto de Aton se espalhasse pelo baixo e o alto Egito.

3

Assim a menininha perguntava:

— São fortes as palavras do faraó. Mas afinal que tipo de deus é esse que ele disse se chamar Aton o deus de todos os deuses?

Essa foi a resposta do trovador:

— Calma amiguinha! Já vou chegar lá, mas antes escute isso:

Aquenaton mergulhou sobre os raios solares, em transe só escutava suas próprias indagações. Ele sabia que não havia morte para alma, pois não poderia ter fim um espírito livre.

O amor, a bondade, e a humildade são as curas para as doenças da alma humana e toda demência.

A cidade suja era fácil ver como a corrupção espalhava se em cada homem com rapidez, mas rápido ainda era a degeneração das almas desses coitados.

O sangue é saboreado como vinho na boca de um crocodilo!

A carne é saboreada como pão ao ser dilacerado por um cão!

Não há valor para vida humana. Os sacerdotes falharam em cultivar o bem. Embriagados na ilusão de uma falsa riqueza são maus e cultivam o mal no coração do povo.

Vejo que fiz certo em proibir o culto de Amon, pois cada templo estava convertido em casa de perversão e os deuses estavam mortos pelos sacerdotes que fingiam ensinar uma moral e ética, mas vomitavam todo tipo de infâmia tornando esverdeadas todas as carnes de homens e mulheres de Tebas. Já estavam apodrecidas!

Decidi dar ao povo a luz e o esplendor do que há de mais sagrado, e suas faces não seriam mais pálidas, e suas carnes não seriam mais esverdeadas.

Muitos admiram tanto essa sociedade construída a margem da loucura de homens do passado, e cada alicerce uma nova loucura de homens contemporâneos, mas essa sociedade não se compara a luz de uma estrela que também é efêmera diante da grandeza do universo e se desfaz.