Situação inusitada!

Meio dia a pino. A rua estava totalmente deserta. Não se via pessoa alguma, nem outro tipo de animal qualquer. Até uma brisa costumeira daquele horário resolveu, nesse dia, não marcar presença. Dirigi-me à oficina onde havia deixado meu carro para que fossem feitos pequenos reparos. Era horário do almoço e os mecânicos estavam sentados no chão de cimento, agarrados avidamente às suas marmitas, matando quem estava lhes matando. Para minha sorte, o dono estava em seu escritório e recebeu-me. Após o devido pagamento das despesas pelos serviços realizados ele me entregou a chave do veículo, indicando-me o local em que estava estacionado. A rua continuava erma. Aproximei-me despretensiosamente do carro, abri a porta do lado do motorista e entrei. Após sentar-me no banco enfiei a chave na ignição. O carro deu partida. Enquanto eu colocava o cinto de segurança, a porta do carona foi aberta abruptamente e um sujeito alto e forte, de short e nu da cintura para cima, entrou e se aboletou no banco do carona. Cruzou os braços e ficou me encarando com cara de poucos amigos. Dizer que não fiquei receoso seria debochar de vocês, caros leitores, que me leem. Claro que fiquei! Mas, uma coisa que ocorre comigo - e que muito primo - é a calma que se me apodera nesses momentos mais difíceis. Contive-me. Olhei de viés para o “guarda-roupa” ao meu lado e percebi que apesar dele não abrir a boca para pronunciar uma única palavra, continuava me olhando com um olhar assustador. A rua permanecia deserta. Ninguém para vir em meu socorro caso houvesse necessidade. Como ele não portava qualquer arma descartei a hipótese de estar diante de um assaltante. E, passei a trabalhar com a probabilidade de ser um louco que estava ali de bobeira e aproveitou a oportunidade para praticar suas peripécias. O danado assustou-me! É verdade. Fiquei aguardando o momento certo para abrir a porta e escapulir quando, sem mais nem menos ele subiu no banco do carona, onde se encontrava, e pulou para o banco traseiro. Ali, continuou com a mesma postura. Com os braços cruzados e o olhar fixo em minha direção. Passei a acompanhá-lo através do espelho retrovisor. Percebendo que na nova posição em que ele se encontrava representava um perigo menor, arquitetei o meu plano para escapar. Fingi que havia esquecido algo na oficina, abri a porta do carro e saí. Ato contínuo, o sujeito também saiu pelo outro lado e tomou o destino oposto ao meu. E escafedeu-se. Deixando-me até hoje sem entender de onde saíra aquela estranha e enigmática criatura que me pregou essa peça de mau gosto.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 29/08/2012
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