Quietude

Naquela tarde, tudo parecia normal.

Joana saiu do restaurante apressada, estava atrasada para chegar ao emprego.

Trabalhava em uma joalheria no centro da cidade, uma das mais renomadas. Há alguns anos estava ali.

Todos os dias, embarcava no metrô e se dirigia ao trabalho, só que naquela tarde de normal paisagem, de normal fato, de normal essência, tudo transcorreu, assim, de um jeito inquieto, não esperado, nada igual ao jeito de uma tarde normal.

Tudo estava claro demais, quieto demais e com aroma de flores do campo, daquelas que enfrentam as mais difíceis situações, mas que estão sempre ali, viçosas e desafiadoras.

Ao chegar na estação do metrô, Joana deparou-se com o impossível: ninguém estava lá; era a única passageira à espera da viagem.

Olhou para os lados à procura de alguém, caminhou lentamente pela extensa plataforma num ir e vir cansativo. Estava frio, embora o sol brilhasse como nunca.

Sentou-se em um dos bancos, já entediada com tanto silêncio, com tanta ausência. Ali, ficou à espera do metrô que a levaria ao centro da cidade, onde ficava a joalheria.

Muitos anos se passaram, era a impressão que tinha; até que lá, bem distante, avista uma mulher que vem calmamente ao seu encontro. Sorri, não está mais só naquela estação.

A mulher, com vestes esvoaçantes, aproxima-se, senta ao lado de Joana que logo lhe oferece o sincero sorriso.

Ficam por alguns minutos caladas, parecendo já se conhecerem há muito tempo.

Até que Joana pergunta:

- Para você, a tarde está normal? Onde estão as pessoas? Onde estão os sons ensurdecedores de um dia de semana?

A resposta veio séria e calma, veio despida de segundas intenções:

- A tarde está normal, porém não sente isso. Fica procurando por pessoas, quando já encontrou. Reclama da falta de sons que estão aqui e não percebe que, dentro da tarde normal, o inesperado brinda o seu encontro consigo mesma.

A estação é o ponto de partida para que seus dias aconteçam_ calmos ou tumultuados; diferentes ou sempre iguais_ . O metrô são esses dias.

Sua inquietação em procurar incessantemente, num vai e vem cansativo, é o tom que imprime a esses dias.

Tudo tão igual, tão normal, tão monótono que lhe impede de ver: Sou você em momento único; momento em que deixa tudo lá fora e vive a quietude e calmaria do seu eu.

O metrô está chegando, boa viagem!

Cláudia Duarte
Enviado por Cláudia Duarte em 30/10/2012
Código do texto: T3959764
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