Psicose social

Psicose social

Ele era psicologicamente vulnerável a tudo quando não pudesse agarrar com a mão, era mentalmente atormentado com a ficcionalidade, o irreal era sua realidade mais palpável, a realidade de que todos se convinha não lhe interessava, para ele todos viviam uma mentira confortável. Não tinha amigos, pois acreditava que as pessoas que o rodeavam eram espectros, eram vazios vasos de vicissitudes vãs e vulneráveis as vulcanizações de suas futilidades, eram inebriadas, tontas, alcoolizadas de suas felicidades vãs.

Ele era um contra censo, itinerante contrafeito na contramão da mão unica dos demais. Ilógico transeunte das nonsências realísticas de nosso itinerário.

Vi ele hoje logo pela manhã, cambaleante, epilético a transitar pelas valas da invisibilidade social das ruas formiguentas, ele andava tropego e falando com alguém que não se podia ver, imerso em seu universo paralelo caminhava paralelamente ao vexame. No fundo todos estavam concentrados em suas vidas, no fundo todos estavam em seus mundinhos paralelos, no fundo ninguém vive no mesmo mundo, no mundo de cada um existe um fundo mundo profundo de solidão. Em cada ser há um mundo todo, e em todo o mundo há mundos outros. Na verdade ele vivia apenas no seu mundo, tivera tido a coragem de viver em si e para si, ele era o próprio mundo de que precisava, aquilo de que chamavam mundo não era o mundo segundo ele, era o desmundo, para ele o verdadeiro mundo é o mundo-eu, o mundo-outro não existe, ou melhor existe sim, só que é outro mundo, o que não existe é o mundo-nosso, o mundo-nosso é esporádico, é forçosamente um mundo criado aos interesses interativos entre os seres dos diversos mundos, cada ser no fundo é um involucro, que cada um rompe dada as necessidades de se contactar com os outros seres, mas terminada a necessidade de interação cada qual volta a seu involucro, as pessoas são incapazes de conviver em um único mundo por muito tempo, não somos afeitos a convivência mútua.

A hipocrisia não lhe apetecia então abandonou as saídas de seu involucro, não mais se forçaria ao contato com seres extramundo, tudo de que precisava estava dentre de si. Não lhe incomodava dividir espaço com aqueles espectros, o que lhe incomodava era a possibilidade de ser acessado, invadido. As pessoas estão a todo momento querendo nos acessar, querem romper nossos invólucros, querem despedaçar nossos mundos. Por isso ele invisibilizou-se, a incapacidade de caber no mundo Deles permitiu-lhe não mais ser acessado, permitiu-lhe tornar-se um não-ser.

Ele em meio as vias do formigueiro, ia transitando, sempre com aquela expressão de que não estava em nenhum lugar de que já pudesse ter estado um dia, ele parecia não pertencer, não estar, não ser nada, quando o vi logo pela manhã indo ao trabalho passando por mim de relance e me lançando aquele olhar do nada , fiquei estático por um momento como se aquele olhar tivesse me atravessado como se eu fosse um espectro, então percebi, ou melhor posso dizer que senti a densidade do nada me perpassar, foi então que após alguns segundos eternizantes pus-me a caminhar em direção a meu trabalho, sempre mantendo a vista naquele ser que caminhava a passos débeis a minha frente.

Dado um momento ele sentou-se num banco da praça, fazia movimentos com as mãos como se conversasse com alguém, quando passei por ele, me lançou um olhar profundo e mergulhei naquele olhar, naquele mar negro, de onde não podia tirar nada mais do que o vazio desconfortável de estar só comigo mesmo, seus olhos eram um espelho, eram apenas duas cavernas vazias onde me via dentro, não sei mensurar quanto tempo fiquei ali mergulhado em mim, mas sei que acordei do transe e me vi parado sozinho olhando para um banco vazio da praça, por um instante não pude me lembrar do motivo insólito que me fizera parar ali ao descuido que me podia comprometer a pontualidade de funcionário padrão, de súbito me lembrei do motivo pelo qual ali estava, me senti tão nonsense.

De volta a mim olhei preocupado ao relógio e vi que os cinco minutos gastos da casa até a praça haviam sido gastos assim como sempre aconteciam, e as horas de que parecia ter sido os momentos anteriores da visão daquele transeunte até agora não passavam de fruto da nonsência do ocorrido, me faltavam ainda os dez minutos costumeiros até chegar ao trabalho.

Continuei meu percurso até meu destino de todos dias, passei pelo café, onde havia varias pessoas sentadas nas mesinhas na calçada tomando seu café da manhã, passando por aquelas pessoas senti o denso cheiro delicioso do café que só durante as manhãs possuem tal efeito encantador ao meu olfato, a duas quadras a frente tirante as varias formigas ao meu redor percebo uma presença incomoda atrás de mim, por mais que todos parecessem seguir na mesma direção, aquela presença parecia me perseguir, mais a frente já quase chegando ao meu destino, me virei para certificar-me de que não havia ninguém me perseguindo, crente ser mais um fenômeno daquele meu incomodo dia. Ao me virar sou invadido por um olhar que me entra aos olhos e me ocupa, aquele olhar me atravessou, meus olhos não existiam, eram apenas um espelho onde o ser via a si mesmo, fiquei tão incomodado com aquele olhar penetrando nos meus olhos que logo me virei e segui em direção ao meu trabalho, antes de entrar na empresa curioso me viro uma ultima vez para me certificar de que não estava sendo mais seguido, quando olho para traz a pessoa que me lançou o olhar ainda estava parada da mesma forma, continuava a fixar o olhar no mesmo ponto como se eu ainda estivesse lá...

Adailton Almeida Barros
Enviado por Adailton Almeida Barros em 22/09/2013
Código do texto: T4492598
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