ENTRE A MORTE E A AGONIA

estava em casa bebendo
vinho
enchendo a cara
de vinho
e a mente de tênebros
descaminhos,

ela havia acabado de chegar
do trabalho
e mal tinha dado
seu costumeiro boa noite,
quando lhe perguntei
o que eram aquelas flores
sobre a mesa da sala;

ela sorriu e disse
que as havia comprado
para enfeitar um pouco
nossa casa
que andava muito
apagada.

então, eu lhe disse:
“e o cartão que está
junto com elas?”

ela me olhou nos olhos,
quase chorando,
e respondeu:

“devem ser do meu
amante.”

saí de casa furioso
e, desde então,
nunca mais a vira.

andei circulando pelo mundo
como um cachorro
perdido,
entre zonas e putarias
de esquinas,

bebendo todos os dias
e fumando como
um gambá
ferido,

envelhecendo sozinho,
confuso,
com medo
e com o coração
partido.

alguns anos depois,
recebo naquele pequeno
quarto de hotel,
onde pareciam morar
ratos
em vez de homem,

flores,

flores gris,
flores com lágrimas,

e dois cartões,
um com a letra dela
que dizia:

“estou doente,
em meus últimos dias,
mas sempre
te amei
em minha vida,
me perdoa que,
quando coloquei aquelas
flores sobre a mesa,
eu só queria relembrar
nossos primeiros momentos
em que tanto comigo
te sentia”.

o outro cartão era o mesmo
daquele fatídico
dia,

e quando olhei direito
lá estava
a minha grafia,

era o cartão que mandei
com um buquê
de flores
quando lhe pedi para
ser minha.

 
P.S. Não ando gostando de maiúsculas, acho que não ando gostando de nada e, além do mais, pontuar em profunda ebriedade em que me encontro agora, por efeito de dor e de vinho, parece-me como perder tempo caçando joaninhas, enquando só se pode ver as vesanias iluminadas pelas lamparinas.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 08/12/2013
Reeditado em 08/12/2013
Código do texto: T4603129
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