BESTEROL - ESPER MATOU ZÓIDE.

Esper matou Zóide, isto mesmo que você ouviu, Esper matou Zóide.

Aquela manhã estava tranqüila. Gosto de começar minhas historias sempre assim, naquela manhã, mesmo não sabendo se é noite ou dia, outono ou primavera, sol ou chuva. Aqui dentro é sempre escuro, não tenho noção de nada.

Tive um pressentimento, estava muito quieto. Algo estava pra acontecer, então, uma inércia me arremessou, ou melhor, uma correnteza me jogou para frente, fui lançado por um jato de onde estava e logo passei para outro ambiente com duas paredes estreitas e lisas, a escuridão era a mesma. Deslizei por entre elas, pensei, ainda tenho forças, posso caminhar mais. Instintivamente sabia que tinha que seguir, ir sempre à frente. Mas quando dei por mim não estava só. Milhões me acompanhavam. Um bando de Esper e outros tantos de Zóides. Estavam desesperados para chegar na luz, ou há alguma coisa que houvesse luz. Sabia que para continuar vivo tinha que seguir adiante, e mais, tinha que estar na frente de todos. Então, freneticamente comecei a me mexer como se tivesse recebido um choque elétrico, isso fazia meu corpo ir para frente numa velocidade incrível, é fácil. Mas todos os malditos Zóides e os Espers também faziam a mesma coisa, fui ficando para trás. Que merda! Busquei força e entrei no vácuo deles e consegui ganhar várias, milhões de posições em segundos. Como eles são burros, principalmente os Zóides que não são da minha espécie. Eu sou um legitimo Esper, porém não sou convencido e nem tenho o orgulho exagerado da minha linhagem. Bom, voltemos a historia, como disse percebi rápido que se eu agisse com minha cabeça e menos com a força eu ia ser primeiro a chegar onde todos queriam, e foi o que aconteceu. Milhões foram ficando para trás. Ficamos apenas em dez, depois nove, depois cinco e depois apenas dois, eu e um Zóide. Olhei para ele, melhor sabia que era ele, eu não tenho olhos ainda. O maldito Zóide não desistia, ele não era qualquer um. Um cara esperto, ágil e rápido. Provavelmente igual a mim teve mais inteligência do que força. Não ia ser fácil derrotá-lo, como eliminá-lo? De repente batemos de cabeça em uma parede, fiquei um pouco tonto, mas continuei batendo. Sabia que tinha que atravessá-la. O maldito Zóide também batia desesperadamente na parede. Quando vi, ele estava furando e quase entrando. Então, agi rápido, enrosquei minha cauda no seu corpo e o puxei pra trás. Ouvi quando ele disse: Proxeneta! Esper filho da puta! Tinha que fazer alguma coisa, mas não tenho mãos, nem pés. O que faço? Resolvi arriscar, o envolvi com minha cauda novamente e apertei o desgraçado. Apertei, apertei, apertei. Ele foi parando de se debater, ficando quieto e depois imóvel. Aproveitei o buraco que ele tinha começado e consegui entrar. Então, comecei a gritar. Entrei! Entrei! Entrei! Queria bater no peito feito um troglodita. "Eu sou o único a conseguir a gloria!" Olhei para os lados. Depois respirei fundo. Foi passando a emoção, fui respirando normalmente. Passou de vez a euforia. Veio-me uma solidão. De repente me senti só, tão silêncio aqui, sem ninguém para conversar. Estava sentindo falta de alguma coisa. Lembrei do Zóide. Porque eu não deixei ele entrar junto comigo. Agi sem sentido com ele. Veio um peso na consciência. Pelo menos ia ter alguém com quem dialogar, um irmão. Aqui tem espaço pra mais uns cinco. E se eu sair e tentar ver se ele ainda está vivo. Comecei a forçar a parede por um bom tempo, mas não consegui, não tinha volta, fui ficando cansado, fiquei imóvel, quis adormecer.

Espero que tudo tenha sido um pesadelo.

fim

DONI SILVA
Enviado por DONI SILVA em 08/05/2007
Reeditado em 15/05/2009
Código do texto: T479407
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