JANELA DA LOUCURA

Confusões. A mente debilitada deslocava-se logo cedo para frente e para trás. Fugia para o passado e, em seguida, puxava aquele espírito miserável para o futuro. As idas e voltas o deixavam com aquela aparência substantivada de quem se permite à variação momentânea da factualidade. Seu rosto tinha os sintomas da ausência ficcional que nos permite à alegria. Sua face continha marcas da falta de presenças isoméricas. A sua cara, quimérica, sustentava-se entre um olhar vago, noturno, rabiscos entrecruzados e saliências utópicas de uma falsa expressão.

E muitas vezes, antes de levantar, já acordado o homem sustentava um riso esquizofrênico que durava um minuto. Outras vezes durava apenas meio minuto e já, o homem, iniciava um choro desenfreado e balbuciante. E ficava durante muito tempo, entre uma sensação e outra. Como se detivesse uma náusea e, em seguida, liberasse um orgasmo. E aquilo era uma loucura. Aquilo era uma vida enclausurada em seu próprio espaço. O espaço do seu quarto mental.

Contam, os vizinhos, que muitas vezes o homem enrubescia tanto os sentidos que falhava compulsivamente. Que arremessava um sapato contra o armário. Que jogava copos na parede. Que explodia o espelho com socos e ficava com a mão machucada. Que rasgava as cortinas, lençóis e cobertores. Que cuspia nas fotos de amigos que guardava em um álbum antigo. Que fitava, por horas a fio, um quadro pintado em aquarela com a imagem de uma mulher negra e muito bonita. Que depois beijava o quadro. Que em seguida atirava-se pela janela e caia no jardim da casa. E, assim, somente assim, acalmava-se olhando as flores que sua mãe plantara quando ainda era viva. E contam também que algumas imagens se formavam sobre o seu corpo deitado sob a copa de uma pequena árvore. A luz do sol, vazada por entre as folhas, o transformava num imenso mosaico. E ele, desapercebido mesmo de si, não tinha, nestas horas, tristezas nem alegrias.

Cadavérico, aquele moço somente retornava ao quarto quando já era bem noite. Uma moça, negra e muito bonita, iniciava carícias em seus cabelos e depois o levantava. Puxado pelas mãos, ele saia perfumado e já com a sensação de ambiguidades bem guardadas. Talvez para consumi-las no início de um outro dia que já chegaria. Novamente um olhar quimérico habitava o silêncio do seu quarto. O moço estava sentado à beira da cama a observar a luz lunar que vinha de fora. Então a janela se fechava e os rabiscos entrecruzados com as saliências utópicas da falsa expressão de sua face desapareciam.