Mas que bobagem, as flores não falam... (EC)

A margarida estava possessa!

Dirigia-se em tom de lamúria a moribunda rosa esbravejando toda a sua insatisfação:

--- Não concordo... Nós, durante quase toda a nossa existência, só abrilhantamos com nossas cores, nosso perfume, nossa graça os ambientes nos quais éramos colocadas! E agora, decorrida nossa fase áurea, cá estamos relegadas a este plano de esquecimento e maus tratos, onde nem sequer irrigadas somos.

Da já enfraquecida rosa, apenas um sussurro se ouvia:

--- Minha querida amiga! O tempo é inexorável com todos. No local em que vivemos conjuntamente vimos exemplo com o próprio ser humano! Não se lembra da vovó Olga?

O aparente destempero que assolava a margarida deu uma trégua e ela suspirou:

--- Nem me fale! Que saudades sinto dela...

A rosa prosseguiu:

--- E então? Se um próprio ser da própria raça que de nós cuidava enquanto éramos viçosas, foi abandonado ao apresentar evidentes sinais de senilidade, o que esperava eu quando minha pujança me abandonasse?

Retomando sua fala de indignação, a margarida esbravejou novamente:

--- Não é justo, não é justo... A substituíram por um ser artificial! Sem viço, sem brilho em suas cores, sem seu perfume...

Lutando por esconder da amiga defensora, furtiva lágrima que teimava em rolar por entre suas já alquebradas pétalas, a rosa soçobrou:

--- Sem pessimismo e não querendo causar-lhe nenhum sofrimento adicional, eles sabem que as flores de plástico não murcham, não necessitam ser regadas, não necessitam de luz, não necessitam de carinho, não decaem e não morrem!

E expirou!

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Flores de plástico não morrem

Saiba mais, conheça os outros textos:

http://encantodasletras.50webs.com/floresdeplasticonaomorrem.htm