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O CURIOSO
 
 
     É finados. A chuvinha fina derrama-se sobre o túmulo, misturando-se às lágrimas da jovem mulher. Ela tem os ombros curvados, a cabeça baixa e os longos cabelos escorrendo a chuva. O rosto está sereno. Não sei se a poça de água sobre o túmulo florido é da chuva ou da torneira de seus olhos. A boca se mexe num balbucio inaudível. Um pássaro ecoa um canto estridente, mesmo assim, ela não sai da posição de estátua. Não fosse o leve movimento dos lábios, teria certeza de que era uma.
     Tenho vontade de deixá-la com sua dor, mas um quê de encanto me prende. Ela parece surreal, sem vida, sem sangue, sem...
     Epa! Mudou de posição. Foi um movimento quase imperceptível, mas, como estou atento, colhi o precioso gesto.
     Agora, levanta a cabeça e olha para o céu. Os lábios movimentam-se mais rápidos.
     Temo que me veja como um ser indiscreto. Dou um passo para trás e bato na ponta de um túmulo. Quase grito de dor. Ela faz um movimento brusco e me encara.
     É, então, que a reconheço: morreu com o noivo, num acidente, há um mês. 



 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 02/11/2014
Código do texto: T5020776
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